Luiz Carlos Azedo: Cadeira vazia

“Sem Bolsonaro , o último debate na tevê será um confronto entre Haddad e Ciro Gomes, que intensificou sua campanha de voto útil e propõe uma aliança com Alckmin e Marina”.
Foto: Leo Canabarro
Foto: Leo Canabarro

“Sem Bolsonaro , o último debate na tevê será um confronto entre Haddad e Ciro Gomes, que intensificou sua campanha de voto útil e propõe uma aliança com Alckmin e Marina”

No Twitter, o candidato Fernando Haddad (PT) desafiou Jair Bolsonaro (PSL) a comparecer ao debate de hoje à noite, na TV Globo, chamando-o de covarde e acusando-o de propagar notícias falsas por meio de mensagens nas redes sociais, principalmente no WhatSapp, onde as fake news são mais difíceis de serem combatidas. Bolsonaro não vai ao debate, alega que gostaria de ir, mas foi proibido pelos médicos. Com isso, evita uma situação em que seria alvo de todos os candidatos, inclusive o petista, que somente agora passou a atacá-lo frontalmente. Até então, o PT atirava contra Geraldo Alckmin, enquanto o tucano tentava desconstruir Bolsonaro.

Em sua casa, na Barra da Tijuca, ontem, o candidato do PSL recebeu os médicos que o operaram no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. O cirurgião Antônio Luiz Bonsucesso Macedo e o clínico cardiologista Leandro Echenique explicaram as razões do veto: “Nós contraindicamos participação em debates ou em qualquer atividade que pudesse cansá-lo ou obrigá-lo a falar por mais de 10 minutos”, disse Macedo. Bolsonaro se recupera da facada que recebeu em 6 de setembro, em Juiz de Fora, onde foi operado pela primeira vez. Desde então, ficou fora das ruas.Em contrapartida, intensificou sua campanha nas redes sociais, que está muito segmentada e pesada, o que provocou uma mudança de tática de Haddad.

Em entrevista à Rádio Jornal do Recife (PE), Haddad subiu o tom dos discursos. Atribuiu a subida de Bolsonaro nas pesquisas a mentiras espalhadas pelo adversário e admitiu a dificuldade para combatê-las: “Se ele [Bolsonaro] fosse valente, como diz que é, enfrentaria isso olho no olho, e não pelo WhatsApp. WhatsApp é coisa de covarde. Não é coisa de político sério.” No mais, manteve a retórica contra o mercado financeiro e desmentiu qualquer influência do líder petista José Dirceu num eventual governo petista.

Ontem, pesquisa do Ibope/Estadão mostrou oscilação nas intenções de votos de ambos: Bolsonaro subiu de 31% para 32% e Haddad, de 21% para 23%. Ciro (PDT) e Alckmin (PSDB) caíram um ponto e agora estão, respectivamente, com 10% e 7%. Marina se manteve com 4%. A situação dos demais é a seguinte: Amoêdo (Novo) e Meirelles (MDB) com 2%; Álvaro Dias (Podemos) e Cabo Daciolo (Patriotas), 1%; os outros não pontuaram, inclusive Boulos (PSol). Os votos brancos e nulos somam 11%; não sabem nem responderam, 6%. Esse resultado, porém, trouxe novo alento para a campanha de Haddad em relação a Bolsonaro, porque, na simulação de segundo turno, o petista aparece na frente do adversário: 43% a 41%. Pesquisa do DataFolha que analisamos ontem apresentou Bolsonaro como possível vitorioso no segundo turno. A rejeição de Bolsonaro caiu de 44% para 42% e a de Haddad também oscilou um ponto para baixo; na pesquisa do Ibope, está em 37%.

Sem Bolsonaro no debate, a disputa principal provavelmente será entre Haddad e Ciro Gomes, que intensificou sua campanha de voto útil, com a circulação de um manifesto apelidado de Alcirina, que propõe uma aliança do candidato do PDT com Alckmin e Marina, que, nesse caso, retirariam as candidaturas. É improvável que isso venha a ocorrer, mas Ciro insiste na proposta porque está de olho nos eleitores que admitem mudar o voto, para evitar um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad. A candidatura de Marina Silva vem em queda desde o começo da campanha eleitoral, enquanto a de Alckmin, no decorrer da semana, começou a ser cristianizada nos redutos eleitorais do PSDB, principalmente em São Paulo e Minas.

Triângulo
A situação mais crítica para o tucano é em São Paulo, onde foi ultrapassado por Fernando Haddad, na capital e no interior. Com a disputa acirrada entre João Doria (PSDB),com 24%, e Paulo Skaf, 21%, Alckmin começa a ficar sem palanque, porque o ex-prefeito paulistano já deriva para Bolsonaro, enquanto o governador Márcio França (PSB), com 14%, prepara o desembarque na campanha de Haddad, que saiu do isolamento em que se encontrava no palanque de Luiz Marinho (PT), que tem 8%. Outro reduto tucano que está derivando para Bolsonaro é Minas Gerais, embora o senador Antônio Anastasia (PSDB) lidere a disputa contra o petista Fernando Pimentel (PT). No Rio de Janeiro, os candidatos do PT já se aliaram ao candidato do DEM, o ex-prefeito Eduardo Paes.

Nas entrelinhas: Cadeira vazia

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