Governo não tem uma articulação política e uma base capazes de estabelecer um cronograma de votações
O primeiro mês do ano legislativo de 2020 termina nos próximos dias sem um avanço relevante nas pautas prioritárias e significativas para o governo de Jair Bolsonaro.
Fevereiro foi perdido. Um desperdício de precioso tempo em ano de eleição municipal, quando o Congresso trabalha apenas nos primeiros meses para retornar em novembro, após os resultados das urnas.
A tão esperada reforma administrativa virou lenda na Esplanada. Depois de até ensaiar uma desistência da proposta, o governo parece que enfim deve enviá-la ao Parlamento. Pelo menos Bolsonaro tem dito isso nos últimos dias —se é que é possível levar a sério qualquer coisa que diga.
O Congresso pretende iniciar em março as reuniões da comissão mista da reforma tributária, outro ponto essencial da agenda econômica do ministro Paulo Guedes (Economia).
Enquanto Câmara e Senado duelam pelo protagonismo da tramitação das medidas, o Planalto, sob pressão de setores empresariais, não desce do muro e mantém mistério sobre o que realmente vai sugerir.
Ganha um pacote de confete e serpentina no Carnaval quem disser quando será aprovada a PEC Emergencial, que trata dos gastos públicos. É mais um item da lista de Guedes que dificilmente será votado com o calendário apertado de 2020.
Nada disso seria preocupante se o governo tivesse uma articulação política decente com os partidos e uma base de apoio capazes de estabelecer um cronograma de votações para garantir a aprovação de pontos essenciais de temas aqui citados.
Bolsonaro está cercado no Planalto de militares sem traquejo político. O general Luiz Ramos, responsável pela relação com o Congresso, não tem ideia do que faz no posto. Seu colega Augusto Heleno (GSI) agrediu e ofendeu o Parlamento na crise sobre o Orçamento impositivo.
No fim de semana, Bolsonaro publicou lives no Guarujá sendo abraçado por populares. Quer passar a sensação de que tem respaldo e as coisas estão bem. Uma ilusão carnavalesca que vai custar caro ao país.