O Brasil do ex-presidente parece tão ou mais surreal do que o de Bolsonaro
Há pelo menos três Brasis em andamento. Um de Jair Bolsonaro, outro de Luiz Inácio Lula da Silva e um Brasil mais real, sem os delírios bolsonaristas nem lulistas.
No Brasil de Bolsonaro, nada do que a imprensa faz presta, tudo não passa de perseguição a um governo perfeito. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, é um exemplo de gestor, e o Enem, um sucesso —só está sob ameaça de sabotagem.
Nesse Brasil, não há conflito de interesse no fato de o chefe da Secom, Fabio Wajngarten, receber dinheiro de emissoras de TV e agências que levam verba da própria Secom.
E qual o problema em ter trabalhando na Esplanada o ministro do Turismo denunciado por corrupção eleitoral? Para Bolsonaro, nenhum.
Readmitir um assessor que pegou um voo exclusivo da FAB para a Índia seria ok nesse país bolsonarista, se não fosse a reação imediata dos veículos de comunicação, ao noticiar a manobra do Planalto, e das redes sociais, repudiando a renomeação de Vicente Santini na Casa Civil.
O Brasil do ex-presidente Lula parece tão ou mais surreal do que o de Bolsonaro. Enquanto o país precisa de uma oposição serena e construtiva, para contradizer um governo caótico e ineficaz, Lula vive em um mundo de conluios e conspiratas.
Como bem mostrou a Folha neste fim de semana, o petista acumula declarações falsas e distorcidas desde que saiu da prisão, em novembro.
A sensação é a de que Lula fala sem preocupação com a precisão do que diz. O blá-blá-blá talvez seja intencional. Ele despreza a imprensa e insiste na narrativa sem pé nem cabeça de que um complô americano atuou na Petrobras para desgastar o PT.
Como se o seu governo e o de Dilma não tivessem entregue a estatal a petistas e peemedebistas, entre eles o presidiário Eduardo Cunha, para tomar de assalto os seus cofres.
O Congresso retorna hoje com uma agenda econômica de interesse do país. Bolsonaro continua sem uma base de apoio. A sorte dele é que a oposição, que tem o PT de Lula como principal força, nem faz cócegas.
Leandro Colon é diretor da Sucursal de Brasília, foi correspondente em Londres. Vencedor de dois prêmios Esso.