Presidente afirmou que seu governo está indo em direção ao ‘iceberg’
É justo admitir que Jair Bolsonaro falou uma verdade em meio às barbaridades ditas na reunião ministerial do dia 22 de abril.
Em lapso raro de lucidez diante das evidências sobre a interferência na Polícia Federal, o presidente afirmou aos ministros que seu governo pode estar “indo em direção a um iceberg”. “A gente vai pro fundo, então vamos se ligar, vamos se preocupar [sic]”, disse.
Passado o choque da revelação de um episódio da zorra total, a certeza é a de naufrágio após a batida inevitável da gestão Bolsonaro com o iceberg. O vídeo revela um governo não só de insanos e despreparados como também de gestores completamente perdidos.
Muita gente nem deve ter percebido, mas a razão do encontro era o programa Pró-Brasil, coordenado pelo general Braga Netto (Casa Civil).
A proposta é um amontado de ideias de investimentos públicos e de números reciclados. Na prática, nada.
“É um plano Marshall brasileiro, né?”, disse Braga Netto na reunião fechada com seus colegas ministros.
Plano Marshall foi o programa dos EUA para ajudar a reconstruir os países aliados devastados economicamente com a Segunda Guerra.
Ao ouvir Braga Netto, Guedes rebateu: “Não chamem de Plano Marshall porque revela um despreparo enorme”. “Um desastre”, acrescentou. “Vai revelar falta de compreensão das coisas”, disse o ministro na frente do chefe da Casa Civil e do presidente Bolsonaro. “Pró-Brasil é um nome espetacular’, exagerou Guedes.
À tarde daquele dia 22, Braga Netto convocou a imprensa para anunciar o programa no Palácio do Planalto. Guedes ficou de fora da entrevista. Pouco antes, jornalistas foram informados e publicaram que nos bastidores os militares haviam apelidado o Pró-Brasil de “Marshall”.
Questionado pelos repórteres, o chefe da Casa Civil, talvez um tanto esquecido do que dissera no encontro privado com os colegas de governo, respondeu: “Não existe nenhum Plano Marshall, aqui existe o Pró-Brasil. Plano Marshall é outra coisa”.