Frases fora de hora ditas por Bolsonaro não devem ser tratadas com normalidade
Em menos de três dias, o presidente Jair Bolsonaro defendeu a prática do trabalho infantil, comparou o Brasil a uma virgem que atrai tarados e tratou a lenda João Gilberto, que morreu no sábado (6), apenas como uma “pessoa conhecida”.
Não se pode dizer que Bolsonaro causa espanto com essas declarações. As suas limitações são de domínio público desde os tempos de deputado federal. Ele foi eleito sem enganar nem mesmo seus eleitores.
Frases fora de hora e absurdas ditas pelo chefe da República não devem ser tratadas com normalidade.
Ao exaltar o trabalho infantil, o presidente faz a apologia de uma ilegalidade. A Constituição do país liderado por ele proíbe menores de 16 anos de trabalharem (com exceção dos aprendizes a partir de 14). O IBGE estima que ao menos 1 milhão de crianças trabalhem ilegalmente.
No início da noite de sábado, Bolsonaro resolveu dar uma escapada do Palácio do Alvorada para uma festa de São João no clube Naval, em Brasília. Não sem antes falar com os jornalistas que estavam de plantão do lado de fora. Aproveitou para novamente provocar líderes europeus sobre a preservação da Amazônia.
Segundo ele, “o Brasil é uma virgem que todo tarado de fora quer”. Não cabe no figurino de um presidente equiparar chefes de outros países a um maníaco. Não há tese ambiental, por mais delirante que seja, capaz de sustentar tanta agressividade.
Na entrevista, Bolsonaro foi questionado sobre o pai da bossa nova. Passavam-se quatro horas do anúncio de sua morte e o Planalto ainda em silêncio. Esperava-se uma manifestação de agradecimento e exaltação à figura de quem fez muito pela cultura do país, dentro e fora dele.
Bolsonaro saiu com essa: “Uma pessoa conhecida. Nossos sentimentos à família, tá ok?”. Não é um despropósito imaginar que ele nem soubesse direito quem era João Gilberto. Comportamento que parece mistura de desprezo ao compositor morto com ignorância mesmo.
Até o mais fanático dos “bolsominions” deveria ficar constrangido.