Parlamento não reage ao descalabro do governo na pandemia e ao caso Queiroz
O Brasil atinge a desoladora marca de 100 mil mortos pelo Covid-19 ao mesmo tempo em que novos elementos surgem sobre as ligações entre Fabrício Queiroz e Jair Bolsonaro.
Dois temas distintos que dividiram casualmente o noticiário da semana que findou. Eles coincidem em um ponto: o silêncio do presidente da República.
Bolsonaro se cala sobre a montanha de dinheiro que pingou várias vezes na conta de Michelle e tergiversa em relação à responsabilidade na catástrofe do coronavírus.
Não há explicação plausível para os 27 depósitos feitos por Queiroz e sua mulher entre 2011 e 2016. Um total de R$ 89 mil repassados por meio de cheques para a primeira-dama.
Não fica em pé a versão inicial dada pelo presidente de que parte disso, R$ 40 mil, era pagamento de empréstimo que fez a Queiroz. Empréstimo jamais declarado no Imposto de Renda.
A defesa capenga e a falta de esclarecimentos sobre os novos fatos reforçam as suspeitas de que Michelle foi elo do esquema das “rachadinhas” da Assembleia do Rio. É muito grave.
Em um país um pouco mais sério, o Congresso cobraria resposta de Bolsonaro e investigaria o caso. Em um país que tem o centrão dando as cartas, isso não vai acontecer.
Da mesma maneira o Parlamento se omite no comportamento doloso do governo na pandemia.
Ignora a narrativa criminosa do presidente em defesa da hidroxicloroquina e assiste silenciosamente ao naufrágio da gestão militar no Ministério da Saúde.
São 100 mil mortos. Sobram notas oficiais de lideranças e repúdios de opositores em redes sociais, além de outros gestos inúteis que não fazem cócegas no morador do Palácio do Alvorada.
“Vamos tocar a vida”, disse Bolsonaro na véspera de o país atingir a marca dos 100 mil.
O presidente não precisa se preocupar muito. Pode continuar omisso e tocando sua própria vida enquanto não houver uma reação decente por parte de quem deveria fazê-lo.