Escândalo envolvendo ex-jogador não pode chocar tanto a Embratur
Logo após a divulgação de que Ronaldinho Gaúcho havia sido detido no Paraguai pelo uso de passaporte falso, pipocaram nas redes sociais as lembranças de sua nomeação para a função simbólica de embaixador do Turismo brasileiro.
O ex-camisa 10 do Barcelona foi escolhido em setembro pela Embratur para ajudar a promover a imagem do Brasil no exterior. Recebeu um certificado (este verdadeiro, espera-se) para o trabalho voluntário.
O resultado não poderia ser mais desastroso: seis meses depois, Ronaldinho protagoniza no noticiário internacional um enredo vexaminoso —e também muito esquisito.
Ronaldinho e seu irmão Assis são investigados por terem apresentado passaportes paraguaios para visitar o país vizinho. Gesto sem pé nem cabeça porque se pode entrar com passaporte brasileiro ou um RG.
A questão é que o documento de mentira não só existe como foi utilizado na imigração local. A fraude é grotesca até para os folclóricos padrões de falsificação do Paraguai.
O escândalo nem deve chocar tanto a Embratur já que o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, continua no cargo após ter sido indiciado pela Polícia Federal e denunciado à Justiça por corrupção eleitoral.
Não faria sentido cancelar a honraria ao ex-craque da seleção se o chefe da pasta toda é enrolado até o pescoço no esquema dos laranjas do PSL. E, vale lembrar, o presidente Jair Bolsonaro (que recebeu Ronaldinho para um almoço no Planalto) declarou que é preciso esperar a conclusão do processo envolvendo o ministro para decidir seu futuro.
Portanto nada mais coerente do que manter Ronaldinho embaixador do Turismo no aguardo de a Justiça paraguaia encerrar o caso. Segundo o noticiário, o ex-atleta pode ter relações bem mais complicadas com o grupo que forneceu o passaporte.
Bolsonaro e Embratur nada têm a ver com a confusão de Ronaldinho. Mas o episódio mostra que esse negócio de governantes tirar proveito da fama de esportistas consagrados é uma sacada com boa dose de riscos.
*Leandro Colon é diretor da Sucursal de Brasília, foi correspondente em Londres. Vencedor de dois prêmios Esso.