Não há base governista que solidifique com o método de articulação do Planalto
Jair Bolsonaro finge que não, mas a verdade é que tomou um baile na votação que aprovou o Fundeb na Câmara.
O episódio expôs uma fragilidade justamente na hora em que o presidente tenta distensionar a relação.
Depois de tantos flertes com o centrão, regado a cargos públicos, ele foi atropelado pelo plenário presidido por Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Fracassou a armadilha de querer contrabandear dinheiro do fundo para o Renda Brasil. Tem muito político que gosta de enganar, mas não de ser enganado.
O centrão não ajudou e deixou o Planalto solitário no vexame protagonizado pelos sete minguados bolsonaristas que votaram contra o fundo.
Ato contínuo, Bolsonaro destituiu a super aliada Bia Kicis (PSL-DF) da vice-liderança do governo, como punição – ela foi um dos “rebeldes”.
Tudo teatro para bolsonarista ver. No sábado (25), o presidente visitou a parlamentar em sua casa em Brasília em um gesto de prestígio.
O modelo “paz e amor”, com acenos ao Congresso, pode ser bonito para fora, mas no plenário o jogo é completamente diferente.
Deputados e senadores, fisiológicos ou não, gostam de bajulação e de saber quais são claramente os movimentos do governo.
No caso do Fundeb, houve uma tentativa sorrateira do Planalto de mexer no dinheiro sem nunca ter sentado para negociá-lo. Não há base governista que solidifique com o método.
Bolsonaro percebeu que nem centrão engole esse tipo de coisa e ainda quis faturar a aprovação de algo que tentou fazer diferente até os 45 do segundo tempo.
A reforma tributária é agora sua nova agenda prioritária. Fatiá-la, como fez Paulo Guedes ao entregar a primeira parte, é uma estratégia para aprovar logo um pedaço do bolo.
Há uma boa vontade dos congressistas em avançar até de forma mais ampla. E há espaço para o governo ser bem sucedido. Só não pode aplicar uma rasteira de última hora.