Não deveriam restar dúvidas sobre a necessidade de mantê-lo por mais três meses
O governo Jair Bolsonaro faz malabarismos na busca de uma fórmula para estender o auxílio emergencial de R$ 600 para além dos três meses que se encerram em junho. Quase 58 milhões de pessoas já receberam o beneficio, e o número de elegíveis segue em ascensão. Um custo mensal de R$ 51,5 bilhões para remediar a perda de renda de informais impossibilitados de trabalhar durante a pandemia.
Falta dinheiro não só a eles e aos cofres do Tesouro, que prevê um dispêndio de 2% do PIB com o auxílio no período, como papel-moeda em circulação para suprir a demanda por saques. Isso provocou restrições a retiradas e o uso de ferramentas digitais para o pagamento das famílias.
Dados o frangalho das contas públicas e a pirambeira abaixo da atividade econômica, trata-se de uma discussão complexa, que passa pela fundamental transparência dos dados —com a divulgação da lista dos beneficiários— para inibir fraudes. Não deveriam restar dúvidas, no entanto, sobre a necessidade de manter o auxílio nos padrões atuais por mais três meses —sob Luiz Henrique Mandetta, o Ministério da Saúde estimava que só em setembro haveria queda acentuada na curva de transmissão do vírus.
Mas o ambiente no governo é dominado por um viés fiscalista e liberal, eivado de preconceito atávico, que escarnece da miséria alheia. “Se falarmos que vai ter mais três meses, mais três meses, (…) ninguém trabalha. Ninguém sai de casa, e o isolamento vai ser de oito anos, porque a vida está boa, está tudo tranquilo”, declarou Paulo Guedes. “Vamos ter que dar uma amortecida nisso daí. Vai ter a quarta parcela (…), não sei quanto vai ser, R$ 300, R$ 400; e talvez tenha a quinta. Talvez seja R$ 200 ou R$ 300. Até para ver se a economia pega”, afirmou Bolsonaro.
A prorrogação do auxílio poderá ser vinculada à revisão de outros programas sociais, como a farmácia popular. A extinção dessas iniciativas está na alça de mira desde o início da gestão bolsonarista e agora ganha momentum.