Mídias sociais, como o Facebook, revelam estratégias distintas das duas principais candidaturas em oposição ao ex-presidente até agora
Após um mês atípico em agosto, quando a página oficial de Lula no Facebook superou as de todos os outros presidenciáveis em volume de interações por causa de sua caravana pelo Nordeste, a primeira semana de setembro mostrou quão difícil será para o petista segurar essa liderança. A dificuldade virtual espelha o aumento da pressão contra o ex-presidente na Justiça – e todas as implicações que isso tem sobre sua candidatura em 2018.
Nos últimos sete dias, a página de Lula no Facebook voltou a ser ultrapassada pela de Bolsonaro em comentários, likes e compartilhamentos. Mais do que isso. Como era de se esperar, a delação de Palocci e a denúncia de Janot viraram munição para os adversários, e Lula perdeu o controle da narrativa sobre si próprio nas redes sociais. É dos poucos casos em que o “falem mal, mas falem de mim” não se aplica.
Finda a caravana, a maioria das interações com o nome de Lula na rede foi provocada por páginas contrárias a ele. Das top 10, pelo menos 6 são antiLula. A campeã foi a do MBL, com 624 mil interações. A página do candidato, que costuma superar com alguma folga a de seus algozes nas menções a ele, ficou apenas em 4º lugar neste começo de setembro, com menos da metade de interações mencionando seu nome que a do MBL – segundo a ferramenta CrowdTangle, comprada e difundida pelo Facebook.
O controle da narrativa pode ser terceirizado – desde que o candidato mantenha a influência no que se diz sobre ele nas redes sociais via páginas simpáticas à candidatura. Na última semana, os comentários e compartilhamentos sobre Bolsonaro foram comandados por páginas de apoio a ele, como SomostodosBolsonaro e Rio Conservador, e as de seus filhos Eduardo e Flavio. As interações sobre Doria foram capitaneadas pela página do MBL.
Já Lula conta com a própria página e a do PT. As dos senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e Gleisi Hoffmann (PT-PR) ajudam, mas não têm nem 100 mil interações sobre ele por semana. Sem histórias e imagens positivas, Lula voltou à defensiva virtual.
As mídias sociais revelam estratégias distintas das duas principais candidaturas em oposição a Lula até agora. Bolsonaro e seus seguidores são, quando muito, coadjuvantes no movimento contra o petista na rede. Criticam e ironizam, mas não em volume suficiente para aparecerem entre os principais algozes do ex-presidente. Estão mais ocupados em afirmar seu nome e defender a agenda conservadora do que fixar Bolsonaro como o antiLula.
Esse papel é protagonizado por movimentos e páginas que estão mais perto da área de influência do PSDB, como o MBL. Do mesmo modo, Doria consegue provocar mais reações dos internautas quando faz pronunciamentos críticos a Lula. E se o ex-presidente acabar não sendo candidato, como parece cada vez mais possível?
As mídias sociais confirmam o que se observa no mundo real. Ninguém no campo petista está conseguindo acumular cacife para substituir Lula como candidato a presidente, por ora. O ex-prefeito paulistano Fernando Haddad e o ex-governador da Bahia Jaques Wagner são ilustres desconhecidos virtuais. Ciro Gomes está melhor do que os petistas, mas ainda não o bastante.
Já entre os adversários, quem tem mais a ganhar com a eventual saída de Lula da corrida? Quem tenta ser o antiLula ou quem investe em identidade própria e surfa a onda conservadora? A estratégia de Bolsonaro parece mais preparada para uma eleição sem o ex-presidente. Seu limite é dado pela capacidade de ele crescer no deserto de homens e ideias que é o centro do espectro político. Esse deserto, porém, continua convidativo para o aparecimento de candidaturas como a de um Luciano Huck.