Ele não é mais ele. O que existe não é seu presente. É apenas o possível futuro de seu próprio passado
Qualquer um que falar, se aproximar, ou se referir ao ministro Sergio Moro já sabe. Está claro. Queira ou não, estará falando com um possível, não necessariamente provável, candidato a presidente da República. Esta candidatura não depende dele. Nem de você. Ela, simplesmente, é. Tem a virtude da existência e por convite de Bolsonaro para ser ministro. Ao aceitar, ficou candidato.
Ele não é mais ele. O que existe não é seu presente. É apenas o possível futuro de seu próprio passado. Quem ameaçaria os demais candidatos seria, então, um Moro imaginado. E seus adversários já o combatem.
Contra este indefinido fantasma eleitoral muitos já se opõem. Distribuem, por exemplo, a versão de que Bolsonaro venceu por causa do voto contra Lula. Difícil constatar.
As pesquisas eleitorais informam que o voto decisivo foi o voto diretamente contra a corrupção financeira e política, e contra a violência urbana.Esta versão, a do voto contra Lula, não deixa de ter um fundo pró-bolsonarista. Busca desde já radicalizar a próxima eleição. E assim reduzir o Brasil e o eleitor.
Outros, também contra Moro, articulam candidaturas de centro conservador ou semiconservador ou protoconservador, com Luciano Huck, João Doria, Rodrigo Maia ou Ciro Gomes. E tantos mais. Tudo bem e legítimo. Saudável.
Mas, Bolsonaro é presidente porque o eleitor teve a percepção de que ele melhor combateria a corrupção político-financeira e a violência urbana e rural. Não foi eleito para prioritariamente combater a inflação ou fazer a reforma da Previdência. Mesmo que necessárias. Política não é reconhecer necessidades. É escolher prioridades.
Uma vez no governo, Bolsonaro mudou de prioridades. Adotou uma política econômica que acredita, ortodoxamente, que para empregar é preciso antes desempregar.
Este é o ponto eleitoralmente frágil de Bolsonaro, que lhe fizeram acreditar ponto forte.
Todas as pesquisas eleitorais deste ano são convergentes. Dos melhores institutos, analistas e mídias, sejam pró ou contra Moro. Ibope, Datafolha, Ipespe, Veja, por exemplo. Moro é o ministro mais bem avaliado pelos brasileiros. O ano todo. Em todos os momentos.
Quando comparado com outros, com todos, Moro é o candidato com mais chances para ser presidente em 2022. Ganha de todos. Inclusive de Lula e Bolsonaro. Em qualquer turno.
Os jovens preferem Moro. O mundo também. Acabou de ganhar o importante prêmio do “Financial Times”, como um dos 50 mais importantes líderes desta década. Carlos Drummond de Andrade uma vez perguntou: “Existem as coisas sem serem vistas?” Neste caso acredito que sim. Estes dados não são vistos.
A oposição a Moro, seja na mídia ou na política, tem a mesma cantilena: “Ah! Mas o Marco Aurélio votou contra ele”. “Ah! Mas ele foi derrotado pelo Congresso na votação do juiz de garantias”. “Ah! Mas o presidente o humilhou na solenidade X, pois não olhou para ele”.
Moro ganha cada vez que uma proposta sua — uma decisão, nomeação de um colega que signifique combate à corrupção e à violência — é derrotada pelo Congresso, Supremo ou Presidência. Quem ganha eleitoralmente é ele.
Às vezes, perder é ganhar.
Não destroem. Ao contrário. Reforçam a imagem de um Moro contra a corrupção, contra políticos denunciados, contra processos que não andam, contra ministros do Supremo instrumentais. Contra transparências ocultas.
Todo este cenário pode mudar, é claro. Mas hoje, controlada a corrupção e a violência, quem competiria com Moro é:
(a) a criação imediata de vagas de emprego estável; (b) mas de emprego com carteira assinada; (c) e com salário suficiente.
(b)
Entretanto, receio que para a política econômica ortodoxa estes empregos de que tanto precisa a maioria dos eleitores ainda vão demorar muito.
Será?
*Joaquim Falcão é professor de Direito Constitucional