Na tentativa de evitar frustrações, Bolsonaro procura respostas rápidas, mas incompletas
Pelo gigantismo, pelos mais variados interesses que os circundam, pela falta de partidos que os sustentem, pelo personalismo de seus ocupantes e até por serem tocados por seres humanos falíveis como todos somos, governos são fazedores de crises políticas. No Brasil, então, de sua oficina governamental jorram problemas. O de Jair Bolsonaro, que completa 19 dias hoje, tem superado as expectativas.
Há razões para isso. Na tentativa de evitar frustrações por parte de seu eleitorado, muito ativos e de reação imediata nas redes sociais a tudo o que ocorre no governo, com promessas populistas para cumprir, como a da flexibilização da posse de armas, mas sem um plano maior de segurança montado, e com um discurso de palanque de combate à corrupção ainda ativo, Bolsonaro tenta dar algumas respostas rápidas. Na pressa, ele erra, pois são incompletas. Se é criticado, rebate. Se é rebatido, explica. Se explica, oferece argumento para os críticos. O novelo cresce.
Bolsonaro não tem um sistema de comunicação bem estruturado. Seu porta-voz ainda não começou a trabalhar. Nesse período, o próprio presidente se tornou o principal comunicador de seu governo, com respostas, ataques e contra-ataques pelo Twitter.
E tem os filhos. Bolsonaro é o primeiro presidente da História do País que tem três filhos em cargos eletivos: um deputado federal, Eduardo; um senador eleito, Flávio; e um vereador no Rio de Janeiro, Carlos. Todos eles ativos, beligerantes. Declarações de Eduardo têm causado problemas constantes, como a feita durante uma palestra, no Paraná, antes da eleição de Bolsonaro, de que para fechar o STF seriam necessários apenas um cabo e um soldado. Ou que a embaixada do Brasil será transferida de Tel-Aviv para Jerusalém. O que falta definir é a data.
Flávio, ao trazer do Rio de Janeiro para Brasília uma investigação sobre movimentação bancária atípica de seu ex-motorista Fabrício Queiroz, jogou um problema sério no colo do pai. Tal atitude forneceu à oposição munição que ela não tinha. Afinal, tanto o pai presidente quanto o irmão deputado tinham feito declaração contra o foro privilegiado. E tem o cheque de R$ 24 mil de Fabrício para Michelle, esposa de Bolsonaro, que, segundo o presidente, é parte do pagamento de um empréstimo de R$ 40 mil que ele, Bolsonaro, havia emprestado ao ex-motorista, de quem era amigo.
Com tudo isso, em vez de gastar sua energia para aprovar projetos necessários para a economia, como a reforma da Previdência, ou o plano de privatização, boa parte do governo, certamente o senador Flávio e o presidente da República, vão passar o tempo dando explicações sobre o recurso. A partir de agora o Ministério Público pode recorrer ao próprio STF para derrubar a liminar de Luiz Fux. Assim, uma ação que corria no Rio de Janeiro veio parar em Brasília, queimando etapas da tramitação.
Outro fator de crises para o governo é a bancada do PSL. Entre seus parlamentares há muitos sem nenhuma experiência. Outros, voluntaristas, dispostos a defender o governo de qualquer jeito. Tem até os que são partidários da porrada para a resolução das diferenças. Quando o Congresso retomar suas funções, em fevereiro, não será nenhuma surpresa se a parte brutamontes do PSL cair em provocação das oposições e partir para a briga.
Essa bancada foi eleita com um discurso moralizador, contrário à velha política. Uma parte dela aceitou convite da China para uma visita ao País, contrariando orientação da direção partidária. Rapidamente, o filósofo Olavo de Carvalho, guru do governo de Bolsonaro e do próprio PSL, chamou os parlamentares de “idiotas” e “palhaços”. A cobrança por um comportamento diferente do partido de Bolsonaro por certo vai continuar.