Soube, há tempos, da morte de René Andrieu, ex-diretor do L’Humanité e herói da resistência francesa. Um homem do maquis, um daqueles organizadores da guerrilha anti-nazista em meio rural. Solidário das lutas do povo brasileiro, Andrieu denunciava sempre em seu jornal os crimes perpetrados pela Ditadura Militar.
Estive com ele em várias oportunidades, tanto em Paris quanto no Rio de Janeiro. Tive a honra de intermediar, na condição de intérprete, um encontro dele com o saudoso Giocondo Dias, na sede do Comitê Central do PCB, em meados da década de 80.
Certa feita, Andrieu me contou uma história muito saborosa envolvendo Régis Debray. Saborosa e, até certo ponto, trágica. Recém-formado em filosofia, membro da Juventude Comunista, Debray procurara Andrieu para uma conversa, logo após o seu retorno de uma viagem clandestina à selva venezuelana, onde se avistara com Douglas Bravo e outros líderes da guerrilha local.
Durante o encontro, realizado nos arredores de Paris, Debray não parava de falar de sua passagem pela Venezuela e de um próximo retorno à América do Sul (soubemos depois que realizaria uma viagem à Bolívia, onde se juntaria à guerrilha do Che). Ocorre que lá pelas tantas o futuro autor de Révolution dans la révolution se embaralhou de tal maneira numa daquelas inúmeras portes (ou saídas) de Paris que acabou se perdendo completamente no trânsito.
Andrieu não titubeou: “Se você, Régis”, disse o velho combatente dos anos 40 para o futuro combatente dos anos 60, “já fica desorientado em Paris, o que dirá na selva amazônica. Abre o olho”.
Não deu outra. Pouco depois, Debray era capturado na Bolívia. Para azar do futuro companheiro do Che, Andrieu não se equivocara.
* Ivan Alves Filho é historiador