Incêndios no Pantanal alcançam ritmo da destruição recorde de 2020

Foto: Sílvio de Andrade/Fotos Públicas
Foto: Sílvio de Andrade/Fotos Públicas

Comparação leva em conta área queimada até agosto de cada ano

Fabiano Maisonnave e Lalo de Almeida / Folha de S. Paulo

No terceiro ano seguido de seca e sob o impacto de fortes geadas, o Pantanal já registra o mesmo patamar de área destruída pelo fogo no mesmo período do ano passado, quando sofreu o pior desastre ambiental da história.

Desde o início do ano até sábado (21), a maior planície alagável do mundo já havia perdido 261.800 hectares para o fogo, o equivalente a dois municípios do Rio de Janeiro. É praticamente a mesma área queimada durante o mesmo período do ano passado (265.300 hectares).

Os dados são do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais do Departamento de Meteorologia (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A aceleração das queimadas ocorre a poucos dias de setembro, historicamente o mês com mais focos de incêndio.

“Neste ano, o Pantanal secou mais do que o ano passado”, afirma Márcio Yule, 57, coordenador em Mato Grosso do Sul do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), do Ibama.

Segundo ele, a situação se deteriorou rapidamente nos últimos dias. “Até a última semana, estava bem tranquilo. Terminamos o mês de julho com 56% menos focos de incêndio do que no ano passado. Agora, este ano já está mais complicado.”

Diferentemente de 2020, quando os grandes incêndios se alastraram primeiro pelo Pantanal de Mato Grosso, neste ano a região mais crítica é o sul do Pantanal de Mato Grosso do Sul.


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Neste domingo (22), o fogo chegou bem próximo da área urbana de Bela Vista (317 km de Campo Grande), cidade fronteiriça com o Paraguai, origem do fogo. Um paiol de munição do Exército teve de ser esvaziado por precaução.

De acordo com o comandante do Corpo de Bombeiros de Bela Vista, tenente Alex Fernandes, o combate ao fogo mobilizou colegas de outros municípios de Mato Grosso do Sul, militares do Exército, Polícia Militar Ambiental, Defesa Civil e até moradores. Ele afirmou que nenhum prédio foi atingido e que a situação foi controlada no final do dia.

Não muito longe dali, um forte incêndio na Terra Indígena (TI) Kadiweu mobilizou 50 brigadistas do Prevfogo de MS, a maioria indígena. Até sábado, 18% do território já havia sido devastado pelo fogo.

De acordo com Yule, as fortes geadas que atingiram o território kadiweu queimaram praticamente toda a vegetação, facilitando a propagação. A expectativa é de que a entrada de uma frente fria na quinta-feira (26) traga chuva e ajude a debelar o fogo na região.

Após a tragédia do ano passado, quando cerca de um terço do Pantanal foi devastado, as chuvas não foram suficientes para recuperar rios e inundar as baías e os corixos.

Em 20 de agosto, o rio Paraguai, o mais importante do Pantanal, atingiu 0,44 metro em Cáceres (MT), o nível mais baixo registrado no local. No mesmo dia de 2020, era de 0,70 metro. O nível médio para o período é 1,49 metro.

Nas últimas semanas, uma iniciativa financiada por doações de pessoas físicas formou dezenas de brigadistas no Pantanal com a estratégia de agilizar o combate ao fogo.

A ONG Instituto SOS Pantanal já capacitou 305 pessoas, espalhadas por 18 comunidades e 21 fazendas. A área de abrangência das 24 brigadas rurais é de 400 mil hectares. Oito dessas brigadas entraram em ação nos últimos dias, de acordo com a entidade.

“Percebemos que há muito a trabalhar na prevenção no campo e no monitoramento”, diz Leonardo Gomes, 34, diretor de relações institucionais da SOS Pantanal. “O objetivo é que as pessoas atuem de forma eficaz e com poucos recursos.”

Com a maior capilaridade, a meta é que as brigadas consigam entrar em ação de forma rápida, debelando um foco nas primeiras 24 horas para evitar que se alastre.

O treinamento também prevê que as novas brigadas possam atuar de forma integrada com órgãos públicos.

“Caso haja um deslocamento de bombeiros ou do Ibama, é totalmente diferente quando eles chegam a um território onde as pessoas sabem usar as ferramentas de localização e estão treinadas e equipadas”, diz Gomes.

Cerca de 70% do orçamento veio por meio de 22 mil doações de pessoas físicas, com uma média de R$ 50 per capita. Houve também ajuda de empresas e, recentemente, o projeto obteve mais recursos por meio da venda de obras doadas por artistas. O custo do treinamento e da compra de equipamentos para as brigadas comunitárias ficou em cerca de R$ 800 mil.

*O repórter Lalo de Almeida viajou a Porto Jofre (MT) com o apoio do Documenta Pantanal.

Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2021/08/incendios-no-pantanal-alcancam-ritmo-da-destruicao-recorde-de-2020.shtml

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