Homem-forte da campanha, ministro é um depositário de várias informações importantes
Na teoria dos jogos, a soma negativa é aquela situação em que todos os envolvidos acabam perdendo. É o caso do provável desfecho do episódio envolvendo o ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral), que deverá ser exonerado na segunda (18).
O que fica incerto é o capital danoso que Bebianno tem à disposição contra o governo. E uma certeza: esse é um governo caótico ao lidar com crises, o que sinaliza dificuldades à frente.
Gustavo Bebianno, que foi braço direito de Bolsonaro na campanha eleitoral – o ministro é um depositário de várias informações importantes —o termo “cadáveres enterrados” não cai bem, embora o chefe tenha determinado o fim do politicamente correto em seu discurso de posse.
A queda esperada de Bebianno é resultado de uma operação de Bolsonaro e seus filhos, no caso o loquaz Carlos, o “pitbull” do pai. A postagem republicada pelo presidente, que cristalizou uma crise que poderia ter ficado restrita ao escândalo das candidaturas laranjas doPSL reveladas pela Folha, é simbólica dos novos tempos em Brasília.
Para apoiadores de Bolsonaro na bancada do PSL na Câmara, esse padrão disruptivo deverá ser o novo normal das relações de poder. Isso pode ser até verdade, mas os riscos estão todos colocados.
A ala militar do governo e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), expressaram um alarme grande em relação à condução da crise.
O fato de que o usualmente falador Carlos moderou o tom de suas postagens no Twitter desde que foi instrumental para o pai humilhar publicamente Bebianno, na quarta (13), foi lembrado pelos fardados e pelo deputado como um sinal de que talvez os filhos do presidente agora deverão se comportar.
Mas o grande temor de Maia e dos militares, a existência de algum tipo de trava à tramitação da reforma da Previdência no Congresso, é ainda algo insondável. Pode ou não ocorrer.
Para os militares, em especial, o episódio representa uma confirmação de cenário. Eles foram chamados a mediar a crise, já munidos do viés contrário ao poder dos filhos do presidente.
Não deu certo, mas eles saem com um capital político ainda maior caso o desfecho da crise seja o esperado.
Fraco politicamente o governo já é, pela condução bizarra do episódio Bebianno. Militares não queriam mantê-lo por algum amor específico, assim como Maia, mas por uma percepção da “velha política” de que esse tipo de turbulência mais atrapalha do que ajuda.
O tempo dirá quem está certo, mas se Bebianno for de fato mandado à rua na segunda, o será com algum tipo de acordo ainda desconhecido. Ele sabe muito, e indicou em suas mensagens pouco discretas na imprensa, que pode comprometer o presidente.
Agora é lidar com os fatos. Havia uma certeza nos meios governistas: sem a reforma, o já frágil politicamente governo Bolsonaro naufraga ainda no porto. Parece um certo exagero típico desses momentos, mas gente do outro lado do balcão (oposição, neutros) alimenta temor semelhante.
A sexta (15) começou em clima de acordão. Mas o vazamento dos áudios no qual o presidente ordena o cancelamento da agenda de Bebianno com os “inimigos” da Rede Globo, ordem que foi adiantada pela Folha, caiu muito mal entre a ala bolsonarista que quer Bebianno longe.
Ao fim, salvo novas mudanças de rumo, parece ter prevalecido o fígado. De resto, o tal novo normal terá tido apenas seu primeiro teste, ainda fora da realidade do plenário.