Em apenas quatro anos, ele transformou os EUA numa república de bananas
Em apenas quatro anos, Donald Trump transformou os EUA do que muitos descreviam (exageradamente) como farol da democracia numa república de bananas. As cenas de barbárie a que assistimos na quarta-feira deixarão marcas profundas na política e na autoimagem dos americanos.
A tentativa de golpe incitada pelo ainda presidente Trump também se destaca pela incompetência. O exército de Brancaleone que ele mobilizou para invadir o Capitólio nunca teve condições objetivas de tomar o poder e nem mesmo de impedir a certificação de Joe Biden como próximo mandatário.
Se Trump planejava apenas galvanizar sua base de apoiadores e posicionar-se para uma eventual volta em 2024, então ele errou escandalosamente na dose do discurso sedicioso. Ao cruzar a linha vermelha inscrita na cabeça da maioria dos americanos, o magnata virou contra si um número não desprezível de apoiadores e lideranças do Partido Republicano. Já há quem fale em impeachment ou em acionar a 25ª emenda para retirá-lo do poder. Existe a chance de que seja processado ao término do mandato e acabe preso.
Incompetência, porém, não é a única explicação plausível para o destrambelhamento de Trump. Eu não descartaria a hipótese de ele viver um episódio psicótico que o leva a acreditar que realmente venceu a eleição e está sendo roubado. Em qualquer caso, não tem condições de governar. Como uma destituição-relâmpago não é algo trivial, talvez tenhamos de nos conformar em torcer para que nada de mais grave aconteça nas próximas duas semanas.
O assalto ao Capitólio traz, porém, lições que podem ser úteis. Ao revelar que Washington não é tão diferente das capitais de países do Terceiro Mundo, ele tende a moderar um pouco o excepcionalismo americano. Há mensagens válidas até para nós no Brasil: se o sistema não extirpa “ab origene” as tendências golpistas de líderes populistas, o pior pode acontecer.