Vice, general Hamilton Mourão se tornou a voz da racionalidade na nova gestão
“Sempre aconselhei o meu pai: tem que botar um cara faca na caveira pra ser vice. Tem que ser alguém que não compense correr atrás de um impeachment.” Essas foram as palavras que Eduardo Bolsonaro, o filho trinigênito, usou em agosto para comentar a escolha do general Hamilton Mourão para compor a chapa presidencial com Jair Bolsonaro.
À época, o raciocínio fazia sentido. Mourão, afinal, poucos meses antes, fora exonerado do cargo que ocupava no Exército após dar declarações que soaram golpistas e não conseguia controlar a própria língua, envolvendo-se em sucessivas controvérsias. Desde que o governo teve início, porém, o quadro mudou.
Enquanto o general fez as pazes com seu superego e tornou-se a voz da racionalidade na nova gestão, o capitão parece ter perdido qualquer elo que já tenha tido com o bom senso e cria para si mesmo encrencas gratuitas dia sim, dia não.
Para ficarmos na Quaresma, depois do caso do “golden shower”, que ocorreu há apenas seis dias, Bolsonaro já disse que devemos ademocracia à boa-vontade dos militares e reproduziu uma mentira em suas redes sociais para atacar covardemente mais uma jornalista, desta vez Constança Rezende, do Estadão. Põe-se agora a arbitrar o conflito entre as alas olavista e militar no MEC. Duvido que termine bem.
Se Mourão foi escolhido para servir como seguro contra um impeachment, o general hoje parece mais um atrativo do que um espantalho. É cedo, porém, para considerar um afastamento. O destino do governo Bolsonaro está atrelado à economia e ele sabe disso.
Um sinal animador é que, embora o presidente continue fantasiando com a tal da nova política, surgem sinais de que o governo já entabulou negociações com parlamentares para a reforma da Previdência. Não é que ela cure tudo, mas, sem essas mudanças, haveria uma deterioração tão forte da economia que o cenário Mourão se tornaria verossímil.