Sinais de que as bandeiras do capitão reformado não podiam ser levadas a sério sempre estiveram presentes
Fatalismo é o nome genérico dado às várias doutrinas filosóficas segundo as quais o futuro, por necessidade lógica, determinismo causal ou mais simploriamente pela vontade de Deus, está traçado desde o início dos tempos, de modo que resistir é inútil.
O fatalismo anda de mãos dadas com a ideia, tão cara a algumas vertentes do protestantismo, de predestinação, que, no fundo, diz que cada um recebe o que merece. Meu ponto, e agora eu vou ser cruel, é que o Brasil merece Bolsonaro.
Ele, afinal, foi eleito democraticamente pela pluralidade dos cidadãos que se manifestaram nas urnas. É verdade que o capitão reformado nunca prometeu cometer estelionato eleitoral, mas os sinais de que suas bandeiras não podiam ser levadas a sério sempre estiveram presentes para quem quisesse ver.
Os mais ingênuos foram os “farialimers”, que se julgam mais espertos do que todos. Só com doses tóxicas de “wishful thinking” era possível acreditar que Bolsonaro, com um sólido histórico de 28 anos de votações em favor de pautas intervencionistas, estatistas e corporativistas na Câmara, se tornaria fiador de um projeto liberal para o país.
Não se saíram muito melhor os que se decidiram pelo capitão para protestar contra o establishment. Assim que vislumbrou a possibilidade de sofrer impeachment, Bolsonaro correu para os braços do centrão, o símbolo mesmo da velha política que ele dizia abominar. Mas será que era crível que o sujeito que fez carreira como representante do baixo clero da Câmara se voltaria contra o sistema que o pariu?
Os mais decepcionados devem ser os que elegeram Bolsonaro contra a corrupção. A cada dia que passa se avolumam evidências de que a primeira família usava e abusava dos peculatozinhos de parlamentares sem grande acesso ao poder. E indícios desses esquemas, como a Wal do Açaí, já haviam aparecido no noticiário antes da eleição. Não viu quem não quis.