Salta aos olhos a obsessão do protocensor de Rondônia com Rubem Fonseca
“Conteúdos inadequados às crianças e adolescentes” é uma frase impossível. Não há como um burocrata lotado num gabinete na capital saber de antemão o que indivíduos que ele nem sequer conhece estão aptos a compreender. Conheço jovens cuja capacidade cognitiva supera a de autoridades, eleitas, nomeadas e até concursadas. E não me venham falar em entendimento médio. Na média, a humanidade tem um testículo e uma mama.
Só isso já deveria bastar para afastar definitivamente qualquer pretensão do poder público de decidir a quais obras, espetáculos e outras manifestações culturais menores de 18 anos podem ter acesso. O máximo que o Estado pode fazer é exigir, no caso de exibições públicas, que tragam uma breve descrição da natureza do conteúdo para que os pais possam decidir.
Não obstante tais truísmos, essa turma que chegou recentemente ao poder insiste em promover uma cruzada para livrar a juventude de uma imaginada influência perversa de autores perigosos. Na mais recente emanação desse delírio censório, autoridades educacionais de Rondônia tramaram para recolher das escolas 43 títulos de livros que julgaram “inadequados”. Depois que a maquinação foi revelada, recuaram, não sem tentar mentir sobre o ocorrido.
O que já era absurdo na forma torna-se ridículo no conteúdo. Quando se confere a lista de obras que seriam proscritas, o que salta aos olhos é a obsessão do protocensor com Rubem Fonseca, autor de 18 dos 43 títulos malditos. Mas sobrou também para o saudoso Cony, Kafka e Poe. Até “Macunaíma”, leitura exigida nos principais vestibulares do país, teria sido banido.
Paradoxalmente, o “Putsch” cultural rondoniense faz avançar a causa liberal. Eles acabaram de me convencer da necessidade do Estado mínimo, desde que seja para livrar a molecada desse gênero de educateca. Ops, já ia esquecendo que a palavra “gênero” também precisa ser banida.