Os movimentos políticos rumo à construção de uma candidatura forte para enfrentar o presidente começaram antes mesmo do primeiro turno, mas até agora qualquer avanço esbarra no excesso de nomes para encabeçar chapas e na falta de clareza do PT sobre qual será seu rumo
Terminada a eleição de 2020, foi dada a largada em busca de quem será o anti-Bolsonaro, o mais apto (ou apta) a derrotar o ex-capitão em 2022 e devolver o país aos trilhos da tão distante tranquilidade democrática. Os movimentos políticos rumo à construção de uma candidatura forte para enfrentar o presidente começaram antes mesmo do primeiro turno, mas até agora qualquer avanço esbarra no excesso de nomes para encabeçar chapas e na falta de clareza do PT sobre qual será seu rumo.
Atualmente, quatro nomes já se movimentam com mais clareza para enfrentá-lo, cada um num degrau diferente da escada rumo ao que pode se tornar uma candidatura de fato: Ciro Gomes, o terceiro colocado de 2018; João Doria, o governador de São Paulo eleito pelo voto bolsodoria e agora opositor; Luciano Huck, o apresentador de TV que ninguém sabe de fato se será candidato; e Sergio Moro, o ex-juiz, ex-ministro e agora consultor. Os quatro tentam formar uma chapa que una centro-direita e centro-esquerda, sabedores de que uma aliança forte será fundamental para tentar furar a polarização Bolsonaro-PT. E é aí que mora o primeiro problema.
Nenhum dos quatro tem perfil para ser vice do outro. Alguém imagina Huck deixando a vida de estrela da TV para ser vice de Doria? Ou de Moro? Ciro? Mais experiente da turma, Ciro toparia ser vice de Huck, a quem só se refere como “o estagiário”? E Doria, há tempos convicto de que seu próximo ambiente de trabalho será o terceiro andar do Planalto, por acaso aceitaria ser vice de Moro? Ou de Huck? E há mais nome na praça.
O ex-presidente do STF Joaquim Barbosa não descartou concorrer a presidente.
O ex-ministro do STF reuniu-se dias após o segundo turno com o PSB, partido em que esteve mais perto de ingressar no passado, e ouviu novamente uma sondagem para entrar na política. Barbosa ainda não sabe se deseja concorrer, mas se disse preocupado com o Brasil e afirmou seguir observando o cenário para avaliar que contribuição pode dar.
Em outro lado do espectro, o PT até agora dá sinais de que terá, sim, candidato em 2022, em que pese o fracasso de 2020. A eventual anulação do processo do tríplex liberaria Lula para ser o nome, mas Jaques Wagner e Fernando Haddad também estão no páreo. Seja o petista que for, será um candidato com grandes chances de estar no segundo turno, na configuração dos sonhos para Bolsonaro. O presidente sabe que em 2018 foi eleito mais pela negação ao PT do que por seus atributos.
Há, enfim, dois complicadores a mais na equação: a incerteza sobre como será a economia em 2021 e o imponderável trazido pela imensa capacidade de Bolsonaro de gerar crises. O presidente é um candidato competitivo em quase todos os cenários, mas bem menos se retomar seus flertes golpistas e não conseguir controlar o tamanho da fila do desemprego.