Revista Esquinas*, Brasil de Fato
Organizado desde 1995, o Grito dos Excluídos e Excluídas é uma das manifestações mais tradicionais dos movimentos populares ao redor de todo o Brasil. Ele surge com a proposta de contrapor a “celebração” da Independência do Brasil, uma vez que uma parcela de sua população ainda se encontra sem acesso a condições básicas de sobrevivência, fato que se agravou com as crises política e econômica dos últimos anos.
O Grito de 2022 aconteceu em diversas cidades do país com o tema “Independência para quem?”, que ressaltou o aumento da população em situação de rua nas grandes capitais, além da violência contra povos marginalizados.
Em ano de eleições presidenciais, o Grito em São Paulo também deu espaço para manifestações a favor da democracia. “Não é uma resposta, porque não é para ser uma manifestação defensiva, ela é ofensiva, porque apresentamos um projeto”, comenta Ian Neves, professor de história e criador de conteúdo para internet.
A escolha da data se refere também à dualidade de se estar em um país livre do colonialismo, porém, onde as pessoas que vivem nele ainda estão presas a um sistema que condiciona a desigualdade social.
“É importante nos auto-intitularmos excluídos num dia que celebra a pós-Independência quando o nosso país ainda é subserviente perante aos países imperialistas”, diz Rafaela Puri, da Ressurgência Puri-goitacá da aldeia Marakanà (RJ).
Parte do Movimento de Saúde Mental e Bem-Viver dos Povos Indígenas, Rafaela também explica que o Grito dos Excluídos é uma forma dos movimentos sociais se imporem diante de um cenário pouco favorável para as minorias.
“Se eles jogam a gente na rua para morrer, nós nos levantamos para lutar, a rua é nossa para lutar. A necessidade do povo na rua é contínua”, completa.
O Grito dos Excluídos desse ano não está alheio às ameaças de violência política no Brasil. Marcio Pereira, professor da rede municipal de ensino de São Paulo, ressalta que ao longo dos anos essa é uma situação que tem se intensificado.
“Venho ao Grito dos Excluídos desde a sua primeira edição. A diferença [de 2019] é que hoje a gente saiu de casa com medo. Medo das armas e de defender a nossa bandeira.”
Tomar a frente da Catedral da Sé enquanto a Avenida Paulista é palco de uma das manifestações de direita mais esperadas do ano parece ter despertado um sentimento em comum, porém, que não foi capaz de diminuir a dimensão do Grito dos Excluídos.
Confira outros depoimentos de quem esteve no ato:
“Quando o medo é grande, a resistência tem que ser maior”, conclui Marcio. “A classe dominante celebra o 7 de setembro, trazendo até o coração de um monarca. A classe trabalhadora não é representada. O Grito dos Excluídos nos representa.”
(Ian Neves, professor de história e criador de conteúdo)
“Esse ato é, simbolicamente, um dos mais importantes do ano, pois precisamos mostrar que não estamos recuando, não abaixando a cabeça para os bolsonaristas.”
(Josias Lima, estudante e membro do Diretório Central Estudantil (DCE) Unifesp)
“Nós queremos um Brasil efetivamente democrático, fraterno e distante dos objetivos do atual governo, que incita mais o ódio do que o amor.”
(Eduardo Suplicy, vereador da cidade de São Paulo e candidato a deputado estadual)
*Revista Esquinas é um órgão laboratório da Faculdade Cásper Líbero (SP). Com reportagem de Luisa Monte, Miguel Teles e Nathalia Jesus
*Texto publicado originalmente no Brasil de Fato.