O brasileiro, ou o ser humano em geral, tem uma séria mania de querer comparar fatos que, muitas vezes, são desconexos. Depois da final Olímpica de Futebol Masculino, na qual batemos a Alemanha nos pênaltis, vi algumas pessoas no Facebook dizerem: “enquanto estamos comemorando este ouro, nossa educação, saúde, segurança etc., continuam sem medalha alguma”. Que o nosso país possuí seríssimos problemas socioeconômicos é inegável. Mas, o ouro é uma coisa, os 7 a 1 que tomamos da Alemanha em 2014, e continuamos tomando em indicadores sociais é outra.
O ouro conquistado no Maracanã pelo nosso futebol é simbólico. O estádio é o nosso cartão postal do futebol, ainda que sua obra original tenha sido destruída para se realizar as “modernas e eficientes” arenas. Foi no Maracanã que perdemos a final da Copa do Mundo de 1950 com, quase, 200 mil torcedores no estádio. Este ouro também é a única medalha que o futebol não possuía e que existia uma grande pressão para tê-la. Um outro fator que aponta este simbolismo é o próprio esporte, o futebol no Brasil não é apenas uma modalidade esportiva, é expressão social, é algo que uni nosso povo em torno de um objetivo em comum. É acima de tudo a maior paixão da maioria dos brasileiros. Por isso a comoção tão grande.
Outra comparação equivocada foi pessoas dizerem que esta vitória sobre a Alemanha serviria de revanche sobre a dolorida derrota no Mineirão em 2014 por 7 a 1. Esta derrota para Alemanha nunca terá uma revanche, todo brasileiro levará este fardo por suas vidas. Se a vitória olímpica foi simbólica como dito acima, não menos simbólico também foi a derrota em 2014, afinal a Alemanha veio ao Brasil mostrar que ganhava de goleada não apenas no campo, mas em estrutura de futebol. E se falarmos em fatores socioeconômicos os alemães aumentam esta goleada sobre nós. Portanto, para o Brasil apagar os 7 a 1, primeiramente teria que reformar toda sua estrutura futebolística, segundo recuperar o seu futebol de essência, terceiro ganhar dos alemães de 7 a 1 lá na Alemanha, e quarto apagar da memória esta derrota. As três primeiras opções já parecem complicadas, a quarta é impossível. Pois, na vida não esquecemos das coisas, aprendemos a conviver com perdas e dores e as substituímos por outras coisas que dão razão a nossa existência, mas apagar nada apaga. A revanche nunca acontecerá!
As Olimpíadas terminaram, o Brasil ficou aquém do esperado em termos de desempenho e medalhas. A lição que fica é: o esporte é maravilhoso e transformador. Como foi bonito ver o Serginho do vôlei, de história humilde, conquistar sua quarta medalha olímpica. Assim como o Serginho existem vários outros exemplos que mereciam ser contados. Por isso pergunto: “como não se comover? ”. Temos de celebrar nossas conquistas, comemorar e curtir os prazeres que elas nos trazem, mas saber que nossa responsabilidade social como cidadãos não se modifica. Ontem, domingo 21 de agosto, terminaram os jogos olímpicos, hoje, segunda-feira 22 de agosto, continua a vida normalmente. Os ouros que conquistamos estão para história, os 7 a 1 que levamos no futebol e levamos em nossa vida social diariamente continuam latentes, é necessário separar os fatos e ter coragem e disposição para modificar nossa realidade.
Por Germano de Souza Martiniano. Formado em Relações Internacionais pela UNESP Franca e assessor de comunicações da Fundação Astrojildo Pereira.