SÃO PAULO – Sinais de desaceleração da economia chinesa intensificaram o clima de aversão ao risco entre os investidores nesta segunda-feira (27), derrubando as Bolsas globais e pressionando a cotação do dólar para cima. Internamente, a preocupação com o quadro político e econômico do Brasil eleva o grau de tensão no mercado.
Às 12h30 (de Brasília), o dólar à vista, referência no mercado financeiro, tinha valorização de 0,44% sobre o real, cotado em R$ 3,356 na venda. No mesmo horário, o dólar comercial, usado no comércio exterior, subia 0,29%, para R$ 3,358. Ambos estão no maior valor nominal desde março de 2003.
No mercado de ações, o principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa, caía 0,20%, para 49.145 pontos. O volume financeiro girava em torno de R$ 1,8 bilhão. O mau humor também era visto em Nova York, onde o S&P 500 tinha baixa de 0,26%, enquanto Dow Jones recuava 0,61% e o Nasdaq, 0,64%.
As Bolsas europeias operavam no vermelho, com quedas de mais de 1%. Analistas enxergam o movimento como reflexo do tombo de 8,48% do mercado de ações de Xangai nesta segunda, a maior baixa diária nos últimos oito anos.
“A forte queda da Bolsa chinesa trouxe a preocupação de um ‘pouso forçado’ da China [segunda maior economia do mundo], que levou os preços das commodities para baixo e provocou a desvalorização das moedas latino-americanas”, afirma Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil.
Os preços do petróleo caíam mais de 1% no exterior às 12h30 (de Brasília). Com isso, as ações preferenciais da Petrobras, mais negociadas e sem direito a voto, cediam 1,59%, para R$ 9,88.
Investidores também aguardam as deliberações da reunião do conselho de administração da estatal na última sexta-feira.
Em sentido oposto, o preço do minério de ferro subiu 1,4% na China nesta sessão, para US$ 51,40 por tonelada. Assim, a ação preferencial da Vale ganhava 3,20%, para R$ 14,48. A China é o principal destino das exportações da mineradora brasileira.
No setor bancário, segmento com maior peso dentro do Ibovespa, o avanço de Bradesco (+0,82%) e Banco do Brasil (+3,62%) amenizava a queda do índice. Já o Itaú Unibanco via suas ações caírem 0,24%.
A Secretaria do Tesouro Nacional comunicou em nota que a venda de ações do BB que estavam na carteira do Fundo Soberano atingiu 5,63 milhões de papéis e foi encerrada em 15 de julho. O preço médio de venda foi de R$ 23,84 por ativo, totalizando R$ 134 milhões.
JUROS
O dado melhor que o esperado das encomendas de bens duráveis nos Estados Unidos reforçou a visão de que a economia americana segue no caminho de recuperação, o que abre espaço para o Federal Reserve (banco central americano) começar a subir a taxa básica de juros. As encomendas de bens duráveis nos EUA subiram 3,4% em junho, ante expectativa de alta de 2,7%.
O aperto monetário americano deixaria os títulos do Tesouro dos EUA –que são remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco– mais atraentes do que aplicações em emergentes como o Brasil, provocando uma saída de recursos dessas economias. Com a menor oferta de dólares, a cotação da moeda americana seria pressionada para cima.
Mesmo com a recente escalada do dólar, o Banco Central manteve o ritmo de rolagem do lote de US$ 10,675 bilhões em swaps cambiais que vencem em agosto e renovou nesta segunda-feira mais 6.000 contratos. A operação equivale a uma venda de dólar no mercado futuro.
O mercado, contudo, já começa a cogitar a possibilidade de o BC aumentar o volume de rolagem no próximo mês para tentar amenizar o movimento de alta do dólar frente ao real.
Para Rostagno, o BC segue na estratégia de diminuir a intervenção no mercado de câmbio e reduzir o estoque de US$ 108,182 bilhões em swaps cambiais, que tem um custo fiscal elevado. “Se eventualmente o Brasil ficar mais próximo de perder o grau de investimento, acho que o BC pode aumentar as intervenções”, afirmou.
A recente alta do dólar reforçou as apostas de que o BC deverá manter o ritmo de alta de juros na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), cuja decisão será anunciada na quarta-feira (29).
O Boletim Focus, divulgado nesta manhã, mostrou uma mudança das apostas para a taxa Selic (juro básico) no fim deste ano. A mediana das projeções passou de 14,50% para 14,25% ao ano. Já a mediana da projeção para o IPCA (índice oficial de inflação) subiu de 9,15% para 9,23% em 2015 e ficou estável em 5,40% para 2016.
Fonte: Folha Online