Folha de São Paulo: Revolução Russa é narrada em tuítes que imitam líderes

A agência de notícias russa RT, vinculada ao governo, criou mais de 40 contas no Twitter para os principais personagens da revolução que completa cem anos em 2017. Desde janeiro, eles vêm narrando o principal acontecimento histórico do país como se fosse em tempo real.
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Existem perfis para Lênin, Stálin, Trótski, Kerênski, governos de outros países, partidos, sindicatos e até da monarquia tirada do poder no começo daquele ano.

“Todos os personagens aparecem de uma maneira caricata. É um trabalho jornalisticamente bem feito e sem deturpação histórica”, avalia o professor Osvaldo Coggiola, chefe do departamento de história da USP.

Mas, claro, existem as sutilezas do humor. “Eles apresentam brincando conversas entre pessoas que vão se matar depois.”

Também foi criada uma conta para o “Russian Telegraph” (@RT_1917).

No dia 13 de outubro, Lênin criticou o jornal, que estampou na capa a silhueta do socialista com chifres vermelhos, uma alusão a uma capa da “Time” com Donald Trump: “Capa horrível! Mas o que mais esperar da imprensa burguesa”, disse. Ninguém se surpreenderia se a mensagem viesse de algum político de 2017.

Na última sexta (20), o líder bolchevique respondeu a perguntas dos russos on-line.

LIVE Q&A session with Bolshevik leader @VLenin_1917 starts NOW! Dear followers, thank you for your questions! So, Vladimir Ilyich 

Uma das questões veio de @OlgaPaley_1917: “Você sempre diz que ‘não se pode fazer revolução usando luvas brancas’. Você está realmente pronto para ter sangue em suas mãos?”

A resposta foi, claro, política: “Já disse antes: nossa inevitável vitória será 90% sem sangue. Além disso, encerraremos a guerra e salvaremos milhares de vidas”.

Neste final de outubro, as mensagens retratam o clima de rebelião contra o governo provisório. O período antecede à Revolução de Outubro (cuja data, pelo calendário ocidental, é em novembro), quando os bolcheviques tomam o poder.

Kerênski, premiê do governo provisório, escreve “em nome do povo russo, que trabalhadores de Petrogrado [São Petersburgo] cessem atividades que podem prejudicar o bem comum”. Já Trótski diz que os bolcheviques não vão negociar com um governo que traiu sua pátria.

A ausência de internet àquela época é mero detalhe, assim como o fato de que, hoje, críticas públicas ao governo russo não são exatamente bem aceitas pelo presidente Vladimir Putin.

Além disso, a efeméride tem sido pouco celebrada e noticiada no país, afirma o professor Coggiola.

Os tuítes também podem ser acessados em 1917.rt.com, que traz uma linha do tempo e informações de contexto (com vídeos) sobre a sociedade russa naquela época. Eles falam, inclusive, sobre a imposição da lei seca no período da Primeira Guerra Mundial (1914-18) e a forte dependência de cocaína dos russos.

Não será preciso aprender russo para acompanhar a história: todas as postagens são em inglês e estão agrupadas pela hashtag #1917LIVE.

Se tudo seguir o cronograma, haverá um URGENTE no Twitter do “Russian Telegraph” no dia 7 de novembro.

CONHEÇA OS TUITEIROS

Got to form assault teams armed w/rifles & grenades to storm key govt installations/infrastructure facilities in do or die attacks 

Bolsheviks quit pre-parliament so nation remains vigilant. Petrograd & Revolution are in danger! All power to Soviets! 

Food coupons also handed to all soldiers of the unit guarding us and our staff of attendants 

Pre-parliament gathers some 300 skeptics busy setting up curious experiments with new political institution 

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