Folha de S. Paulo: Meirelles afirma que governo terá candidato

Nome do Planalto não será o de Geraldo Alckmin, diz ministro em entrevista.
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Nome do Planalto não será o de Geraldo Alckmin, diz ministro em entrevista

Marina Dias, Julio Wiziack / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA – O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirma que o governo de Michel Temer terá um candidato à Presidência em 2018 e que ele não será Geraldo Alckmin (PSDB).

Na avaliação do ministro, o Planalto deve apoiar quem defenda por completo a atual política econômica, o que, segundo ele, não é compatível com o discurso do governador de São Paulo.

Meirelles não descarta ser esse nome, diz que, se for candidato, defenderá o “legado” do governo e provoca os tucanos: “Não quero ter a pretensão de entender o PSDB”.

Em entrevista à Folha, o ministro faz pela primeira vez uma avaliação assertiva do cenário para 2018, afirma que a polarização entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PSC) “tem teto de crescimento” e é direto ao ser questionado sobre um possível voo solo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ): “O mundo não acaba em 2018, principalmente para alguém tão jovem”.

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Folha – Temer avalia que a melhora na economia permitirá ao governo ter um candidato competitivo em 2018. O sr. concorda?

Henrique Meirelles – Sim. Gradualmente a população perceberá a melhora da economia e, a partir daí, criam-se condições favoráveis para candidatos que defendam esse projeto de reformas.

O sr. é esse candidato?

A minha decisão será tomada no final de março.

Não será tarde, visto que os candidatos que polarizam hoje a disputa, Lula e Bolsonaro, estão em pré-campanha?

Exatamente porque são duas posições extremas, de esquerda e de direita, têm teto de crescimento. A grande maioria da população ainda aguarda um candidato que não tenha posições extremadas e que vai refletir essa posição de comprometimento com o crescimento do país.

O sr. acha, então, que o governo vai ter um candidato?

Acredito que sim.

E esse candidato não é o governador Geraldo Alckmin?

O PSDB está tendendo na direção de não apoiar o governo e isso terá consequências no processo eleitoral.

Alckmin vem tentando construir esse discurso de centro. Por que ele não pode ser o candidato do governo?

Porque uma coisa é o apoio a determinadas reformas, outra é o apoio à política econômica atual, com todas as suas medidas e consequências. Não há, pelo menos até o momento, um comprometimento do PSDB em defesa dessa série de políticas e do legado de crescimento com compromisso de continuidade.

Qual o fator decisivo para o sr. bater o martelo sobre sua candidatura em 2018?

Primeiro, a consolidação e a percepção pela população do crescimento econômico e, mais importante, dos benefícios que isso vai trazer. Segundo, essa articulação política.

No Datafolha, o sr. aparece com 1% ou 2% das intenções. Não é um percentual muito baixo para um nome que tem a máquina do governo? O tempo não é curto para obter um patamar competitivo em março?

As menções ao meu nome refletem o fato de que tenho dito que não sou candidato, não estou em campanha e estou completamente concentrado em garantir a recuperação da economia e a geração de empregos.

É viável defender um governo com 5% de aprovação, um presidente alvo de denúncias e uma agenda impopular?

O país está acostumado a anos de medidas populistas. Políticas como o teto de gastos e a reforma trabalhista têm uma primeira reação de baixa aprovação, porque não são populistas.

Quando o resultado ficar evidente, vai haver oportunidade para um candidato mostrar que o crescimento e a renda vêm das reformas. Essa posição pode prevalecer se alguém com credibilidade defender que esse é o legado.

No Datafolha subiu o percentual daqueles que acham que a inflação vai piorar e só 27% acham que a situação econômica vai melhorar. Quando a população sentirá no bolso que a situação melhorou?

Na saída de uma recessão grave, a percepção de melhora da economia é gradual. Aumentará aos poucos a percepção que o desemprego está caindo, que as empresas estão contratando. Isso gera confiança, reduz o medo de perder o emprego.

Esse processo vai refletir-se num Natal muito melhor do que nos últimos anos. No início de 2018 ficará mais clara a retomada do crescimento e o aumento da sensação de bem-estar.

Sem a reforma da Previdência voltaremos à recessão. Se ela não passar no Congresso, o sr. acha possível defender seu legado para os eleitores?

Se não passar, vamos enfrentar consequências. Não estamos discutindo se vai haver reforma, estamos discutindo quando vai haver. Se não fizer esse ano, vai ter que fazer no início de 2018. Se não, vai ser em 2019. É inevitável.

O sr. prefere fazer a reforma da Previdência agora ou como presidente?

Acredito que o momento é agora. Para qualquer candidato, inclusive aqueles que se opõem a ela, assumir um governo e enfrentar como primeiro desafio a reforma da Previdência, não é bom início.

É possível ceder aos pontos que o PSDB apresentou? O partido entregará todos os votos se isso ocorrer?

Não quero ter a pretensão de entender o PSDB. As propostas de uma das lideranças do PSDB trazem diminuição dos benefícios fiscais em dez anos em mais de R$ 100 bilhões, têm custo enorme e enfraquecem a reforma.

O governo está negociando um novo Refis para micro e pequenas empresas, o Funrual e outras medidas em troca de votos para a reforma. Existe espaço fiscal para isso?

Há necessidade de aprovação no Congresso, dessas e de outras medidas, como a tributação de fundos exclusivos, o adiamento do reajuste dos servidores públicos… Tudo tem que ser objeto de negociação.

O governo admite descumprir a meta fiscal para aprovar a reforma da Previdência?

A posição é de estrito cumprimento da meta.

Ser candidato do governo significa ter apoio do centrão, grupo que ganhou força com Eduardo Cunha [PMDB-RJ]. Não é incômodo?

É uma forma simplificada de definir aqueles que estão fora da polaridade histórica de PT e PSDB. Agora surgiu uma novidade, uma extrema direita, que não deve prevalecer. Existe uma série de partidos que não fazem parte desses dois polos e têm posições doutrinárias, como DEM e PSD.

O presidente do seu partido [PSD], Gilberto Kassab, quer ser vice na chapa do PSDB ao governo de SP. O sr. descarta trocar de legenda?

Kassab tem expressado apoio à hipótese de uma candidatura minha. Até fevereiro, teremos oportunidade de discutir o assunto e ver até que ponto são compatíveis esses dois projetos.

Temer gosta da ideia de uma chapa Meirelles-Maia. E o sr.?

Maia é um quadro político excepcional, tem um futuro enorme pela frente e não tenho dúvida de que será um nome extraordinário para qualquer chapa ou posição que optar por disputar.

O sr. está dizendo então que ele tem musculatura para disputar mais que uma reeleição a deputado federal?

Toda trajetória tem o momento certo e um dos segredos do sucesso na política é o momento adequado de tomar a decisão. Ele [Maia] está avaliando.

Acho que o mundo não acaba em 2018, nem o país. Temos, principalmente para alguém tão jovem, uma trajetória de caminho aberto para posições importantes. Para alguém na posição dele, 2018 é um ponto na caminhada, não o final.

O sr., portanto, não descarta ser o candidato do governo?

Não. Se a decisão [de ser candidato] for positiva, defenderei o legado deste governo, do qual sou parte.

O sr. prestou consultoria ao grupo J&F. Isso não pode ser usado contra o sr. em uma campanha?

Isso sempre pode ser usado contra mim, mas também contra outros candidatos existem pontos que podem ser usados. Quem entra numa campanha tem que ter segurança. Tenho uma carreira no setor privado diversificada, não é uma ligação especial com determinado grupo. Não existia nenhum relacionamento [meu] de ordem política ou conhecimento das operações do grupo. Em nenhuma delação fui mencionado, a não ser quando houve aquela reclamação [de Joesley Batista a Michel Temer em conversa gravada no Jaburu] de que eu era duro, não aceitava nada.

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