Folha de S. Paulo: General ex-ministro de Bolsonaro diz que ‘fritura política é negócio de gente desqualificada’

Santos Cruz evita responsabilizar o presidente por sua saída do governo e defende ministro Moro.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Santos Cruz evita responsabilizar o presidente por sua saída do governo e defende ministro Moro

Ricardo Della Coletta, da FolhaEduardo Militão, do UOL

general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, afirma que sofreu uma situação de fritura política que culminou com sua saída do governo, em junho de 2019. Para ele, esse tipo de processo é coisa de “de gente desqualificada” e da “escória da política”.

“É um processo de que participam pessoas que não têm qualidade nenhuma, moral e profissional. Para você demitir um ministro, ou qualquer pessoa em função de confiança, é só conversar e mais nada”, disse o ex-ministro, durante programa de entrevistas da Folha e do UOL, em estúdio compartilhado em Brasília.

Apesar das declarações, ele evitou responsabilizar ou criticar diretamente o presidente Jair Bolsonaro e disse não considerar que o mandatário tenha tentado submeter o ministro Sergio Moro (Justiça) a rito de desgaste semelhante.

Fritura política
Eu até fico constrangido de falar desse negócio de fritura política. Acho isso um negócio de gente desqualificada, é coisa da escória da política. O político que se comporta fritando outros é gente desqualificada.

Alvo de fritura
Nunca me afetou emocionalmente e não dou bola para isso. Mas acredito que sim, houve esse processo. É um processo de que participam pessoas que não têm qualidade nenhuma, moral e profissional. Para você demitir um ministro, ou qualquer pessoa em função de confiança, é só conversar e mais nada. Você não precisa desse processo. Para compensar a covardia de não querer falar com a pessoa, você vai criar mil situações para constranger. Para mim, não cola.

Bolsonaro x Moro
Não, posso até considerar que ele está fazendo um erro político. O Sergio Moro é um ícone, uma pessoa que liderou uma virada contra a corrupção histórica no Brasil. A Lava Jato, com Sergio Moro à frente, se tornou uma coisa que vai ficar para sempre.

Outra coisa é que ele [Moro] é uma pessoa com prestígio fantástico na sociedade brasileira. Qualquer modificação nas [suas] atribuições vai ter um custo político muito alto. É uma pessoa que inspira seriedade, firmeza e valores que são necessários. Para mexer nisso, você tem que pensar muito bem.

Em catástrofes no mundo inteiro as Forças Armadas participam. Queimadas, grandes incêndios, enchentes, furacões… Então a participação dos militares na Amazônia [durante as queimadas] foi absolutamente dentro da normalidade.

caso do INSS é administrativo e não tem nada a ver com catástrofe. Você tem dentro do INSS pessoas que podem resolver a questão. Você pode convocar ex-funcionários do INSS que conhecem o sistema, pode terceirizar, fazer concurso, uma série de coisas.

Basicamente tem que ouvir e valorizar o INSS. Você vai ter que treinar os militares, [porque] eles não são treinados para isso. Não vejo o militar como solução para tudo.

Avaliação do governo
Hoje eu torço para que dê certo. Qualquer governo faz coisas boas e ruins. Eu vejo o governo como absolutamente normal em termos de resultado, não é nada espetacular. Talvez as expectativas hoje sejam bem maiores do que a realidade: teve um crescimento de PIB, uma redução pequena de desemprego.

Os resultados não são fantásticos, absolutamente normais. A gente vê que tem uma expectativa positiva para a frente, isso é bom em termos emocionais. Vai ter que esperar essa coisa se concretizar ou não.

Ambiente político
O ambiente politicamente não é bom. Um governo tem que transmitir tranquilidade, união, um ambiente de trabalho onde as pessoas possam esperar com tranquilidade o desenvolvimento da sociedade. Não no tumulto de todo dia você ter uma intoxicação enorme de fake news e de grupos ideológicos espalhando conflitos. Não se pode viver num estado permanente pré-eleitoral.

Verba da Secom
Essa distribuição tem que ser feita com bastante critério. Se você for colocar preferências políticas e ideológicas, você pode ter problema. Eu sou absolutamente contra posicionamentos ideológicos e preferenciais por questões políticas, seja para A ou para B, em termos de comunicação.

Caso Fabio Wajgarten
Isso tem que ser analisado, em primeiro lugar, pela Comissão de Ética [da Presidência]. Precisa ser analisado do ponto de vista jurídico e para isso tem a SAJ [Subchefia para Assuntos Jurídicos] para verificar, além da CGU [Controladoria-Geral da União] e TCU [Tribunal de Contas da União]. Tem que verificar do ponto de vista legal.

Relacionamento Brasil-EUA
Em qualquer situação, sempre quem perde é quem que se alinha automaticamente. Os EUA são um país que tem a liderança mundial em muitas coisas. Um país que nós temos muitas ligações culturais, mas a política americana é baseada nos interesses dos EUA. Com razão. Ser alinhado automaticamente não significa que você vai ter peso na condução da política americana.

Voto do Brasil a favor do embargo a Cuba
Quando ocorreu o voto contra o embargo [americano a Cuba], o Brasil quebrou uma tradição [de 27 anos]. Você votava [contra o embargo] não por causa de alinhamento ideológico, mas por princípios de não se tomar esse tipo de medida seja contra quem for.

Era um posicionamento que se tinha e que foi quebrado. Um posicionamento quebrado por só três países [EUA, Brasil e Israel]. É pouco, nós temos aí quase 200 países. E quando você tem só três tomando uma direção é porque tem alguma coisa que precisa ser considerada.

Grupo ideológico no governo
O presidente Bolsonaro foi eleito por um grupo de pessoas que simpatiza com ele; por um pequeno grupo altamente ideológico, que faz um escândalo muito grande, e por uma grande massa movida pelo sentimento anti-PT.

Após a eleição, toda essa massa anti-PT e todos os que são simpatizantes da maneira de ser do presidente querem resultados de governo. O grupo ideológico, que é muito pequeno, continuou com uma influência muito grande. Ele se comporta como se fosse haver uma eleição na semana que vem.

Bolsonaro e PT
Quem é que mantém o perdedor [das eleições] na primeira página da mídia desde desde aquela época? É o PT ou foi o vencedor [das eleições]? É uma insensatez. Aquele grupo perdeu, ele espera e se candidata na próxima [vez]. É normal. Agora eles têm que esperar, se reorganizar e mudar o discurso.

Mas quem é que mantém a chama acesa daquele grupo ali [oposição]? Eu acho que é um grupo, não é só ele [Bolsonaro]. É um grupo exacerbado e ideológico, que mantém o perdedor na mídia. Na realidade, o perdedor está se beneficiando de toda essa insensatez.

Carlos Alberto dos Santos Cruz, 67
General da reserva do Exército, foi ministro da Secretaria de Governo até junho de 2019. Foi secretário de Segurança Pública do Ministério da Justiça durante a administração Temer. Comandou as tropas da ONU nas missões para estabilização do Haiti e da República Democrática do Congo.

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