Fernando Canzian: Nova ‘Classe D/E’ do Congresso é incógnita com Bolsonaro

Segundo turno pode ser um passeio para o capitão; choque de realidade fica para depois.
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Segundo turno pode ser um passeio para o capitão; choque de realidade fica para depois

O primeiro turno da eleição trouxe uma espécie de invasão da “classe D/E” da política, e é ela que dará as cartas no Congresso. Embora tenha alguns contornos extravagantes e deputados pitorescos, essa nova turma é bastante representativa da sociedade em que vivemos. Isso vinha se desenhando há anos e põe fim à fase em que parlamentares do baixo (ou baixo-baixo) clero tinham de se fazer representar via pressões para cima, por meio de intermediários mais tradicionais que mantinham feudos no parlamento. Se Jair Bolsonaro (PSL) acabar eleito, essa transição de baixo para cima ficará completa. O desafio é que o novo arranjo não parece combinar muito com a agenda liberal que o candidato líder nas pesquisas agora abraça.

Na falta de coisa melhor, empresários e o mercado vêm apostando tudo em Bolsonaro, apesar do entulho retrógrado que ele traz consigo. Qual é a alternativa?

Desde do início da campanha, Fernando Haddad (PT) apenas reforçou o que os próprios petistas querem ouvir, chovendo no molhado ao encerrar o primeiro turno com Dilma Rousseff em Minas e ao começar o segundo com Lula em Curitiba.Na primeira oportunidade que teve, no Jornal Nacional de segunda (8), voltou a detonar o “teto dos gastos”, que garante alguma previsibilidade no gasto público, e o sistema financeiro.Já o discurso de Bolsonaro e a equipe econômica que se desenha vai no sentido contrário, de cortes, racionalização de ministérios e da agenda liberal de Paulo Guedes, seu futuro ministro da Economia —já que Fazenda e Planejamento seriam fundidos.Na quarta (9), porém,

Bolsonaro jogou a tolha sobre a aprovação da reforma da Previdência que está no Congresso, embaçando pela primeira vez, e de forma não trivial, o entusiasmo do mercado em torno dele —o dólar subiu e a Bolsa caiu como resultado.Isso indica que toda a discussão em torno do tema crucial para as contas públicas terá de ser refeita, o que levará tempo diante de pontos espinhosos. Os benefícios dos PMs, que hoje se aposentam aos 49 anos em média serão mexidos? E os dos militares? Qual a economia que o novo projeto trará? Nesse contexto, o PT, que seguirá oposição, terá a maior bancada na Câmara, com 56 cadeiras. E pouco ou nada se sabe ainda dessa nova “classe D/E” que chega à Câmara. E qual preço cobrará de um novo governo que promete o fim da fisiologia.

*Fernando Canzian é jornalista, autor de “Desastre Global – Um Ano na Pior Crise desde 1929”. Vencedor de quatro prêmios Esso.

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