Fausto Matto Grosso: A crise do desemprego

O IBGE divulgou, recentemente, o índice de desemprego no Brasil correspondente ao trimestre entre novembro e janeiro. Ficou em 12,2%, o que corresponde a 12,7 milhões de pessoas desempregadas. Foi uma reversão de expectativa, pois o índice que vinha caindo desde março de 2017 voltou a subir. Isso aconteceu ao mesmo tempo em que a economia brasileira saía da recessão, com um crescimento de 1% em 2017 e projetando um aumento de 2,87% para 2018. Ou seja, o emprego caminhou na contramão do crescimento econômico.
Foto: Senai
Foto: Senai

O IBGE divulgou, recentemente, o índice de desemprego no Brasil correspondente ao trimestre entre novembro e janeiro. Ficou em 12,2%, o que corresponde a 12,7 milhões de pessoas desempregadas. Foi uma reversão de expectativa, pois o índice que vinha caindo desde março de 2017 voltou a subir. Isso aconteceu ao mesmo tempo em que a economia brasileira saía da recessão, com um crescimento de 1% em 2017 e projetando um aumento de 2,87% para 2018. Ou seja, o emprego caminhou na contramão do crescimento econômico.

Muitos analistas chamam atenção para o fato que o atual desemprego no Brasil não é meramente conjuntural, fruto da crise econômica atual. É resultado, também, da modernização da indústria 4.0 e da reorganização da produção em escala global. Em outras palavras, a retomada do crescimento econômico não significará, necessariamente, oportunidades para os atuais desempregados. Está em curso a caminhada rumo a uma sociedade com menos emprego, que precisará, cada vez menos, de trabalhadores.

Essa nova sociedade da robótica avançada, da inteligência artificial, da internet das coisas (IoT) e da impressão 3D demandará menos trabalhadores, e os primeiros a serem substituídos serão aqueles que realizam trabalhos repetitivos e trabalhos artesanais de precisão, facilmente traduzíveis em algoritmos a serem processados pelas máquinas. Muitas profissões já desapareceram nas últimas décadas.

Os analistas divergem quanto ao impacto dessas transformações tecnológicas no emprego. Otimistas, alguns afirmam que os novos empregos afastarão os trabalhadores atuais, mas que novas oportunidades serão abertas para estes em novas áreas. Chama atenção o fato de que todo processo de mudança causa apreensão e insegurança, ocorrendo em todas as mudanças tecnológicas, mas as pessoas têm grande capacidade de adaptação e o sistema tenderá a se aquilibrar.

Por sua vez, o insuspeito Klaus Schwab, fundador e presidente-executivo do Fórum Econômico Mundial (Davos) e autor de “A Quarta Revolução Industrial”, adverte que há uma certeza: as novas tecnologias mudarão drasticamente a natureza do trabalho em todos os setores e ocupações. A incerteza fundamental tem a ver com a quantidade de postos de trabalho que serão substituídos pela automação. Quanto tempo isso vai demorar e onde se chegará? Daimler Benz (Mercedes Benz) afirma que de 70 a 80% dos empregos vão desaparecer nos próximos 20 anos.

O problema do desemprego tenderá, pois, ao agravamento e tornar-se-á, provavelmente, o principal problema dos países nos próximos anos. Poderá fazer surgir grandes turbulências na sociedade. O que fazer com os trabalhadores que serão marginalizados nesse processo? Esse assunto deverá adquirir centralidade na pauta brasileira.

A primeira dificuldade que teremos pela frente é a da falta de sensibilidade das lideranças, públicas e empresariais, para esse assunto. Há falta de visão estratégica na discussão sobre o desenvolvimento.

Também a qualidade da nossa educação, passaporte necessário para a nova economia, ainda é um problema não resolvido entre nós. Estamos colocados na retaguarda, em comparação com os países da OCDE. Considerando os 72 países que foram analisados pelo Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), ficamos em 55º lugar em leitura, 58º em matemática e 59º em ciências. É uma tragédia para o futuro dos jovens brasileiros, afirmou o próprio ministro da Educação, quando foram divulgados os resultados.

Para anteciparmo-nos a essa crise, deveremos colocar em análise novos modelos de distribuição da riqueza produzida. No novo paradigma produtivo, a força de trabalho poderá ser crescentemente desnecessária, mas as pessoas não podem ser descartadas. A ideia da renda mínima cidadã, do sonhador senador Suplicy, talvez mereça ser resgatada. Hoje, o conceito de cidadania é considerado ligado à obtenção de emprego e à renda. É preciso ampliar essa noção. Se o indivíduo existe, deve ser considerado cidadão. Respirou, é cidadão! Esse talvez possa ser o novo lema humanista.

* Fausto Mato Grosso é engenheiro e professor aposentado da UFMS

 

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