Evandro Milet: A disrupção do cisne negro

No seu livro “A Lógica do Cisne Negro”, Nassim Taleb nos apresentou o cisne negro(animal que se considerava inexistente até ser visto, pela primeira vez, na Austrália, no século XVII), como ele batizou um evento com três características: é imprevisível, ocasiona resultados impactantes e sentimos como se pudéssemos tê-los previstos, pois são retrospectivamente explicáveis.
Foto: Marcelo Seabra / Ag. Pará
Foto: Marcelo Seabra / Ag. Pará

No seu livro “A Lógica do Cisne Negro”, Nassim Taleb nos apresentou o cisne negro(animal que se considerava inexistente até ser visto, pela primeira vez, na Austrália, no século XVII), como ele batizou um evento com três características: é imprevisível, ocasiona resultados impactantes e sentimos como se pudéssemos tê-los previstos, pois são retrospectivamente explicáveis.

A crise do novo coronavírus é um legítimo cisne negro. O mundo sairá dessa crise mais antenado com a possibilidade de novos cisnes negros, mais precavido com sopas de animais exóticos e com terrorismo de armas químicas, biológicas e digitais. O mundo mudou conceitos para evitar novos cisnes negros específicos como foram o 11/9 e a crise do sub-prime – mas o seu momento continuará imprevisível. Taleb critica a nossa ilusão de tentar prever o futuro, considerando os cisnes negros e o número de interações no sistema complexo em que vivemos tendendo ao infinito e desmentindo sistematicamente nossas previsões.

Mas temos que tentar. Provavelmente voltará com força a questão ambiental, momentaneamente adiada, que poderá disparar a qualquer momento o evento de um cisne negro devastador.

Depois do cisne negro da queda do Muro de Berlim, tivemos a impressão que a história havia acabado, como Fukuyama sugeriu, que o capitalismo e a democracia haviam vencido. Aí surge a China, com seu capitalismo de estado ou socialismo de mercado, mas sempre uma ditadura, e cresce aceleradamente colocando dúvidas sobre o fim da história. E mais recentemente despontam as tais democracias iliberais, onde o executivo vai minando as instituições mantendo uma aparência, mas cada menos democrática. A Hungria agora muda de patamar e avança com Orban conseguindo poderes absolutos para governar, sinalizando o exemplo para outros candidatos pelo mundo. O novo cisne negro pode vir da política, que embora dê sinais, não sofreu ainda um baque disruptivo geral.

Enquanto isso, a crise do coronavírus promete transformar o mundo e cada país. Depois de meses de transformação digital forçada, o Congresso terá feito sessões virtuais, a justiça terá atuado remotamente, a medicina e a educação também e os trabalhadores terão se acostumado ao home-office. A maioria não vai querer voltar mais. São consequências positivas deste cisne negro devastador.

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