A ideologia de Weintraub, como a de Bolsonaro, é irrelevante
A fritura de Abraham Weintraub começou no início do mês. Sua ida à manifestação contra o Supremo Tribunal, bem como o seu “já falei minha opinião, o que faria com esses vagabundos”, foi deliberada provocação. Ele refletiu aquilo que Pedro Malan denominou de “presidencialismo de confrontação”. Essa marca de Jair Bolsonaro está infiltrada num governo que atira para todos os lados, mas não vai a lugar algum.
Um governo com rumo não teria três ministros da Saúde durante uma epidemia. Quando Weintraub disse numa reunião ministerial que “por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no Supremo Tribunal Federal”, a gravidade não estava nas suas palavras, mas na naturalidade com que foi ouvido. O ministro da Educassão manteve o nível do clima de churrasco na laje. Nele, além dos palavrões do presidente, o ministro da Economia fez uma suave defesa da legalização da jogatina.
Weintraub chegou ao governo substituindo um professor capaz de dizer que “o brasileiro viajando é um canibal, rouba coisas dos hotéis”. Como ministro, deu-se a cenas ridículas, hostilizou as universidades e o idioma. Com o rótulo de “ideológico”, mostrou-se um ruidoso inepto. Atrás dessa marca de fantasia, desfilou trapalhadas, inépcia y otras cositas más.
Durante seu mandarinato, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação teve quatro presidentes. O primeiro patrocinou um edital para a compra de 1,3 milhão de computadores, laptops e notebooks para a rede pública de ensino. Coisa de R$ 3 bilhões. A Controladoria-Geral da União percebeu que 355 colégios receberiam mais laptops do que seu número de alunos. Aos 255 estudantes de uma escola mineira seriam mandados 30 mil laptops. Não havia ideologia nessa maracutaia.
Apontados os absurdos, o edital foi cancelado. O presidente do FNDE foi embora, como foram embora os dois seguintes, até que esse cofre de R$ 54 bilhões foi dominado pelo centrão. Até agora ninguém contou quem botou o jabuti na forquilha. Apesar de ter sugerido a remessa de “vagabundos” do Supremo para a cadeia, Weintraub não mostrou curiosidade pela concepção do edital.
Bolsonaro acha que a ida do doutor à manifestação de domingo “não foi muito prudente”. Vá lá, mas seu silêncio diante do jabuti do FNDE foi mais que imprudente. Se o governo busca uma saída honrosa para Weintraub, melhor faria anunciando uma entrada triunfal para a revelação do metabolismo que produziu o edital.
O “presidencialismo de confrontação” briga com as instituições e com chargistas, defende remédios milagrosos, flerta com a jogatina e chama Covid de “gripezinha”, sabendo que a economia amargará uma recessão histórica. A ideologia de Weintraub, como a de Bolsonaro, é irrelevante. Gustavo Bebianno, o general da reserva Santos Cruz e o economista Joaquim Levy foram demitidos sem preocupações cerimoniais e nenhum dos três fez um décimo das trapalhadas de Weintraub. Isso para não se falar de Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, que saíram do governo por suas virtudes.
No seu segundo ano de governo, a questão ideológica pode ser ruidosa, mas o maior problema de Bolsonaro está na inépcia.