Quadro partidário desolador: o velho caducou, o novo ainda não nasceu
Na “velha política”, o governo de José Sarney alçou o MDB à condição de “maior partido do Ocidente” e os de Fernando Henrique, Lula e Dilma inflaram o PSDB e o PT, que, aliás, se digladiam por décadas. Mas, na “nova política”, ocorre o contrário: já no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro, o PSL está às turras e sob risco de voltar a ser nanico, como antes de 2018.
A única comparação possível é com o governo Fernando Collor, que inventou o meteórico PRN de triste memória e ambos afundaram juntos, rapidamente. A diferença é que Bolsonaro e PSL se desvencilham um do outro, mas à tona. O presidente tem o governo, a popularidade e atrai para São Paulo a CPAC, o maior evento da direita internacional, um “Foro de São Paulo” do lado oposto. Mas, na partilha, o PSL fica com a grana.
O quadro partidário é desolador. Com o recorde (talvez mundial) de 32 siglas registradas no TSE, o Brasil não tem partidos reais, programáticos, com líderes fortes. Quantidade não é qualidade. O gigante MDB está à míngua, o PSDB e o PT não são nem sombra do que já foram, o PSL não dá para o gasto.
Se o “velho” caducou, o “novo” ainda não nasceu. Bolsonaro precisava de um partido, o PSL precisava de um candidato. Foi um casamento de conveniência. O divórcio é só uma questão de tempo. Bolsonaro, que pula de galho em galho, já foi do PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP, PSC e, só “por enquanto”, está no PSL, onde entrou de última hora, abandonando o Patriotas (PEN) na porta da igreja.
O presidente até já recebeu ostensivamente seu consultor para assuntos de partidos – ou melhor, de troca de partidos – e, aparentemente, tem pouco a perder. Já o PSL vai perder quadros, bancada e pode voltar à insignificância, mas tem algo literalmente precioso: muitos milhões do Fundo Partidário e do fundo eleitoral. Já seria ótimo, mas com uma eleição municipal bem aí, em 2020, é excelente.
Agora é saber o que o presidente pretende criar: uma sigla para chamar de sua ou juntar duas já existentes, como o PEN a outro “nanico”. O PSL tem 53 deputados federais e quem sai de um partido fora da “janela partidária” pode perder o mandato, a não ser que saia por “justa causa”. Por isso, Bolsonaro pede auditoria interna: para descobrir corrupção e criar a tal “justa causa”. Até lá, só 20 dos 53 (ou seja, menos da metade) assinaram uma nota meio tortuosa, criticando a cúpula do PSL e exigindo “novas práticas”. Logo, assumindo o lado de Bolsonaro contra Luciano Bivar.
Enquanto isso, a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann, namora o DEM; o líder do partido no Senado, Major Olímpio, dispara contra os filhos do presidente; Alexandre Frota troca desaforos impublicáveis com eles; e Janaina Paschoal defende “candidaturas avulsas”. Isso só em São Paulo, onde, aliás, João Doria está pronto para acolher o espólio. Mas tem o laranjal de Minas, de Pernambuco e do Rio, onde Wilson Witzel quer ser o novo Bolsonaro do PSL em 2022. Aliás, Bolsonaro tenta a versão heroica de que quer distância de laranjas, mas e das “rachadinhas”, outra praga típica da “velha política” muito ativa na “nova”? Lembram do Queiroz?
A popularidade de Bolsonaro está nos ricos e a de Lula e do PT, no lado oposto, nos pobres. O Data Popular, especializado na classe C, ou média baixa, muito importante para consumo e eleições, acaba de fechar uma pesquisa mostrando que a percepção sobre corrupção é acachapante: 97% acreditam que há corrupção no Legislativo; 96%, nos empresários; 94%, no Executivo e no Judiciário. Ou seja: governos vêm, governos vão, partidos sobem, partidos descem e o “povo” continua com a certeza de que a corrupção é incurável. Bolsonaro está perdendo a marca do combate à corrupção.