Pressão contra CPI da Lava Toga e falta de comandos regionais influenciam ameaça de debandada. Eduardo Bolsonaro manobra em São Paulo contra Joice Hasselmann, que deseja disputar Prefeitura: “Outros partidos não perderão a chance de vencer comigo”
Na onda conservadora que elegeu Jair Bolsonaro presidente da República, o PSL conseguiu fazer a segunda maior bancada da Câmara, com 53 deputados, e passou a ter representatividade no Senado, com quatro senadores. Após quase nove meses de gestão, com desentendimentos e críticas públicas, já ocorreram duas baixas, a do deputado Alexandre Frota, que migrou ao PSDB, e agora a senadora Selma Arruda, que foi ao Podemos. E há outras a caminho. Entre 15 e 20 parlamentares podem deixar a legenda nos próximos meses —ou seja mais de um terço dos congressistas ameaçam deixar o partido. São várias as suas motivações. As principais delas: descontentamento com a tentativa do Governo de barrar a CPI da Lava Toga, que pretende investigar a cúpula do Judiciário na esteira do movimento anticorrupção, a não distribuição de cargos entre os correligionários e, por último e não menos importante, as eleições municipais de 2020.
As turbulências começaram cedo no PSL. Primeiro, o deputado federal Alexandre Frota forçou uma expulsão da legenda ao tecer seguidas críticas ao presidente. Agora, foi a vez da senadora Selma Arruda, que relatou à reportagem ter sido destratada pelo primogênito do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que não queria que ela assinasse a CPI da Lava Toga. Frota queria ser expulso para não incorrer na infidelidade partidária e acabou se tornando um tucano. No caso de Selma Arruda, não há esse impedimento, pois a lei que trata da infidelidade autoriza a troca de partido por quem ocupa cargos no Executivo ou no Senado. Agora, ela está no Podemos. Os próximos que podem deixar a legenda são o senador por São Paulo Major Olímpio Gomes, líder do PSL no Senado, e o deputado pelo Rio Grande do Sul Bibo Nunes.
Olímpio comprou briga com dois filhos congressistas do presidente. A queixa contra Flávio é a de que ele quer impedir a instalação da CPI que pode investigar o Judiciário como um favor ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Antonio Dias Toffoli. O magistrado beneficiou Flávio, que é investigado por reter parte dos salários de seus antigos assessores, ao proibir que o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) compartilhe dados sem ordem judicial. Já contra Eduardo, o embate de Olímpio se dá na seara regional. O senador paulista presidia o diretório regional do partido em São Paulo. Após pressões, cedeu a vaga a Eduardo, que chegou no diretório reclamando de seu antecessor. A série de discussões tem ameaçado a organização para a eleição de 2020.
Nesta terça, o jornal O Globo publicou um novo capítulo das disputas em São Paulo, que desagradaram Joice Hasselmann. A líder do Governo na Câmara, ostentando seu título de deputada federal mais votada da história, fala abertamente de seu desejo de disputar a Prefeitura da maior cidade do país no ano que vem. Segundo o jornal, o diretório estadual do PSL-SP, presidido por Eduardo, aprovou uma nominata para criar o diretório municipal, um nova instância que seria entregue a Edson Salomão, tido como oponente de Joice na sigla. A deputada reagiu falando da possibilidade de deixar a legenda: “Não acho que o PSL será injusto com quem tem mais de um milhão de votos, 700 mil na cidade de São Paulo. Mas, se for, outros partidos não perderão a chance de vencer a eleição comigo”, disse ao Globo.
Já Bibo Nunes se envolveu em uma discussão com Luciano Bivar, presidente do PSL. E, depois da desavença, perdeu postos no comando do diretório regional do partido em seu Estado. Nunes ameaçou deixar a legenda. Outros cinco deputados ouvidos pela reportagem disseram que avaliam convites de outras legendas.
O poder de atração do Podemos
Com a ameaça de debandada, quem tenta engrossar suas fileiras na Câmara é o Podemos, que hoje tem 10 deputados. Dois dos parlamentares questionados pela reportagem se sairiam do PSL, responderam, sorrindo, com um discurso idêntico: “Podemos ficar no PSL. Ou podemos sair”.
A estratégia para o Podemos crescer no Senado, com a adesão de Selma Arruda, foi a de ceder aos seus novos membros funções de direção em seus Estados, assim como o de poderem conduzir os processos eleitorais locais, manejando as verbas partidárias para onde acharem melhor. Na Câmara, o movimento é o mesmo, além da garantia de que, em caso de vitória nas urnas, os novos filiados terão à sua disposição cargos na máquina municipal, algo que o PSL não conseguiu entregar na esfera federal. A dificuldade de quem pretende sair do PSL hoje é o risco que correm de perder os seus mandatos por infidelidade partidária. “Eu só sairia se tivesse a garantia de que ninguém pediria a minha cassação”, afirmou um parlamentar.
Questionado o que estaria fazendo para impedir a debandada dos peesselistas, o líder da legenda na Câmara, Delegado Waldir, disse desconhecer o tema e que esse trabalho caberia, principalmente, à Executiva nacional da legenda. Admitiu, contudo, que seus colegas de bancada não estão em total sintonia. “Há alguns atritos, descontentamentos, divisões em alas. Isso acontece em vários partidos. Desconheço essa vontade desses parlamentares, mas não duvido que nos deixem”, afirmou. Procurado, o presidente do PSL, deputado Luciano Bivar, não atendeu aos telefonemas da reportagem nem respondeu aos questionamentos feitos para a sua assessoria.
Os cálculos de Jair Bolsonaro
Conforme dois aliados do presidente ouvidos pela reportagem, até o próprio Jair Bolsonaro avalia a possibilidade de deixar o PSL. Neste caso, haveria duas alternativas. Encontrar um outro partido na qual possa ter influência ou fundar o seu próprio. Essa segunda hipótese foi ventilada no início do ano e tinha o apoio do deputado federal Eduardo Bolsonaro, que queria recriar a UDN (partido que deu sustentação ao golpe militar de 1964). A ideia, no entanto, não prosperou.
Apesar de ser discutida internamente entre membros do Governo, a saída de Bolsonaro ainda é uma possibilidade remota. Seu objetivo inicial é fazer o que fez nas eleições de 2018, sacar Bivar do comando do partido e colocar alguém de sua confiança na direção do PSL para coordenar as eleições municipais de 2020. A maior dificuldade seria exatamente encontrar uma pessoa com experiência em gestão partidária que seja de extrema confiança do presidente. No ano passado, seu então assessor Gustavo Bebianno assumiu interinamente a presidência do PSL. Depois de eleito, Bolsonaro o transformou em ministro da Secretaria-Geral, mas 49 dias depois da posse o demitiu a pedido do seu filho Carlos Bolsonaro, o principal articulador de suas redes sociais.