É possível imaginar que a reserva de votos no petista esteja acima do que as pesquisas apontam. Ele terá, entretanto, alguns desafios, como o fato de o PT não contar com a mesma estrutura de campanha e apoio de outras eleições
Por Oswaldo do E. Amaral, do El País
O Ibope divulgou, no dia 20, sua primeira pesquisa nacional de intenção de voto para a Presidência após o registro das candidaturas junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Confirmando outras sondagens realizadas no mesmo período, o instituto apontou que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a corrida com 37%, seguido de Jair Bolsonaro (PSL), com 18%, e Marina Silva, com 6%. Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) apareceram com 5% cada. Dada a margem de erro da pesquisa, de dois pontos percentuais, os três últimos encontram-se tecnicamente empatados.
O Ibope também testou outro cenário, no qual Fernando Haddad (PT) substitui Lula na urna eletrônica. Nesse caso, Jair Bolsonaro lidera com 20% das intenções de voto, seguido por Marina Silva, com 12%, e Ciro Gomes, com 9%. Dada a grande possibilidade de impugnação da candidatura de Lula, nesse texto tentamos avaliar as possibilidades de crescimento de uma eventual candidatura de Fernando Haddad.
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Quando apresentados os candidatos no cenário sem Lula, Fernando Haddad obtém 4% das intenções de voto, com pouca variação nos segmentos sociodemográficos. Já quando a pergunta indica que Haddad seria o candidato apoiado por Lula, 13% dos entrevistados responderam que votariam nele “com certeza”, enquanto 60% disseram que não votariam “de jeito nenhum”. Observando os dados por segmentos sociodemográficos, o apoio a Haddad, quando vinculado a Lula, fica mais parecido com o perfil do apoio dado ao ex-presidente. Na região Nordeste, 22% dos respondentes afirmaram que votariam nele “com certeza”, contra apenas 9% na região Sul. Entre os que possuem renda familiar de até um salário mínimo, 17% declararam que votariam nele seguramente e entre os que estudaram até a quarta série do ensino fundamental, 18%.
É interessante notar também que, na pesquisa Ibope, o Partido dos Trabalhadores (PT) foi mencionado por 29% dos eleitores brasileiros como a agremiação favorita, em pergunta estimulada. Em segundo lugar, aparece o Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB), com 5%. Na pesquisa realizada pelo Datafolha em junho, o PT aparecia com 19% e o PSDB, com 3%. No entanto, a pesquisa Datafolha realizou a pergunta de forma espontânea. Nos dados divulgados pelo Ibope, a preferência pelo PT se dá de maneira mais forte entre os habitantes da região Nordeste (46%), entre pretos e pardos (34%), pessoas que frequentaram até a quarta série (34%) e indivíduos cuja renda familiar é inferior a um salário mínimo (36%).
Segundo dados obtidos por duas rodadas do Estudo Eleitoral Brasileiro (Eseb), em 2010 e em 2014, cerca de 80% dos que afirmaram gostar do PT acabaram votando em Dilma Rousseff, candidata apoiada por Lula, em ambos os pleitos.
Dessa forma, é possível imaginar que o estoque de votos de Fernando Haddad esteja acima do que as pesquisas apontam até o presente. Se partirmos dos dados do Datafolha, estaria em torno de 16%. Se tomarmos a sondagem do Ibope, em algo como 23%.
A variação verificada nos segmentos sociodemográficos entre aqueles que afirmaram que votariam em Haddad “com certeza” também indica que há espaço para o crescimento entre os setores em que o ex-presidente Lula é bem apoiado.
No entanto, embora os dados indiquem a possibilidade de crescimento de uma eventual candidatura de Fernando Haddad, alguns elementos precisam ser destacados. Primeiro, o candidato não compete sozinho. Ou seja, os outros competidores tentarão evitar que esse potencial se concretize. Segundo, o PT não conta com a mesma estrutura de campanha e apoio de outras eleições. Terceiro, com os dados de que dispomos no momento, não é possível ter certeza se o padrão de lealdade dos petistas se mantém no mesmo nível dos verificados nos últimos pleitos.
Oswaldo E. do Amaral é professor da Unicamp e diretor do Centro de Estudos Opinião Pública (Cesop) da mesma instituição. Esse texto foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições de 2018, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras e busca contribuir com o debate público por meio de análises e divulgação de dados. Para mais informações, ver: www.observatoriodaseleicoes.org