Inviabilidade da campanha de Lula pode empurrar filho de José Alencar para ser vice na chapa oposta. Dirigentes do PR esperam definição até quinta
Por Rodolfo Borges, do El País
O nome de Josué Gomes uniu o Centrão. E o Centrão, o bloco composto agora por PP, Solidariedade, DEM, PRB e o PR de Josué, se reuniu, até agora, em torno da pré-candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à presidência da República. Nos arranjos finais para o início da campanha eleitoral, o empresário filho do falecido vice-presidente José Alencar ganhou força como companheiro de chapa perfeito, não só para a centro-direita, e é desejado como um último trunfo do ex-governador de São Paulo para consolidar sua caminhada do rumo ao Palácio do Planalto. Um trunfo tão valioso que o PT mobilizou esforços para tentar neutralizá-lo. Toda a movimentação colocou o presidente do grupo Coteminas no centro dos holofotes nesta segunda-feira. O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), havia acenado a Josué com a posição de vice em sua chapa à reeleição. Em resposta, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, que comanda as tratativas do Partido da República, decidiu se reunir previamente com o empresário nesta segunda, quando o empresário também conversaria com Alckmin. O tucano saiu da conversa com o mineiro sem acordo ou compromisso, mas pôde comemorar o fato de que Pimentel acabou adiando um encontro que teria o empresário. O suspense seguia.
Historicamente, Josué tem mais proximidade com os petistas, ainda que tenha feito críticas de cunho econômico que o aproximem de Alckmin. O herdeiro político de José Alencar, vice-presidente na chapa com Luiz Inácio Lula da Silva por dois mandatos, tinha um entendimento prévio com o PT, segundo a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR): só seria vice de Lula. Mas uma liderança do PR ouvida pelo EL PAÍS disse que esse acordo só faria sentido se o ex-presidente, preso desde abril, pudesse ser candidato.
Além da parceria de seu pai com Lula, o empresário, que assumiu de fato o lugar de Alencar como presidente do Grupo Coteminas em 2006, foi candidato sem sucesso como “Josué Alencar” ao Senado pelo MDB de Minas Gerais em 2014, com o apoio da então presidenta Dilma Rousseff. Os contatos são ainda mais recentes. Foi na qualidade de principal nome do grupo que controla marcas como MMartan e Santista, dono da maior operação de cama, mesa e banho da América Latina, que, em outubro do ano passado, Josué recebeu a caravana de Lula em uma fábrica da Coteminas em Montes Claros (MG). Na visita, o empresário ouviu do ex-presidente elogios ao pai, devidamente gravados em vídeo e divulgados na página de Facebook do petista.
Em abril passado, Josué, trocou o MDB pelo PR com vias a um possível acordo com o PT em Minas, mas os rumos da política tentam levar o admirado homem de negócios para um lado com o qual ele parece ter mais afinidade ideológica, como mostram suas manifestações como executivo. Desde 2005, a Coteminas se fundiu com a norte-americana Springs e deu origem à Springs Global, também sob a batuta de Josué. Em 2016, no contexto do processo de impeachment de Dilma, o empresário assinou mensagem aos acionistas da Springs Global dizendo que “a falta de convicção nas ações do Executivo, que adotou discurso de austeridade fiscal, porém privilegiando a elevação de tributos, e minimizando o imprescindível corte de despesas e a redução do tamanho do Estado brasileiro, inchado e ineficiente, não ajudaram a tranquilizar os agentes econômicos”. “O Brasil se encontra numa encruzilhada, e a sociedade precisa decidir que direção tomar. O processo de crescimento do Estado vem desde a Constituição de 1988”, dizia o comentário, que seguia: “Criamos um Estado provedor obeso, ineficiente, voraz, que retira seu sustento dos setores eficientes da economia e não retorna à sociedade com serviços minimamente aceitáveis e dignos”.
Esse tipo de discurso pode ajudar o PSDB de Alckmin a recuperar seu protagonismo na centro-direita, considera o cientista político Rafael Cortez, sócio da consultoria Tendências. “A adesão de Josué Gomes também pode levar grandes setores econômicos a contribuir com o financiamento da campanha”, diz Cortez _ainda que como pessoa física, já que as doações empresariais estão vetadas. Outra vantagem da parceria com o empresário é a potencial atração do eleitorado mineiro. “Minas é a perna que tem faltado para o PSDB materializar todo seu potencial”, opina o cientista político, lembrando que Dilma ganhou de Aécio Neves no Estado em 2014. Para o cientista político Adriano Oliveira, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é possível até que Josué consiga carregar algum capital de sua proximidade com Lula para uma outra chapa.
Na semana passada, quando os partidos do Centrão sinalizaram seu apoio a Alckmin, Josué, que estava em viagem pela Europa, divulgou uma nota pouco conclusiva. “De minha parte, creio firmemente que uma coligação deva estar baseada em programas e ideias que projetem os rumos a serem seguidos pelo Brasil. Recebi com responsabilidade essa possível indicação. Agradeço a confiança que as lideranças depositam em meu nome. No meu retorno, procurarei inteirar-me dos encaminhamentos feitos pelos partidos, para que possa tomar uma decisão”, escreveu. Fez menção, ainda, a José Alencar: “Relembro o meu saudoso pai, que dizia que o importante na chapa é quem a encabeça. E acrescentava: ‘Vice não manda nada e deve evitar atrapalhar”. A decisão, espera-se, sai até a próxima quinta-feira.