Ex-ministro lança sua candidatura à presidência pelo PDT ainda à espera de definição do centrão para formar sua chapa
Por Afonso Benites, do El País
Ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes foi oficializado nesta sexta-feira como candidato do PDT à Presidência da República, fazendo um aceno a seus dois principais pontos fracos: a rejeição que tem por parte das mulheres e sua relação acidentada com o empresariado. Em seus dois discursos feitos durante a convenção do partido, em Brasília, o polêmico político tentou ajustar suas falas e gestos. Tido como impulsivo, que oferece respostas às vezes atravessadas aos seus interlocutores, afirmou que não é um anjo e às vezes erra. “Não sou imune a erros. Minha ferramenta é a minha palavra”. Foi defendido pelo presidente do PDT, Carlos Lupi. “A maior crítica que fazem a ele é que ele é duro nas palavras. Como ser mole em um país com tanta desgraça, com um golpista no Palácio do Planalto?”, questionou Lupi, citando o presidente Michel Temer (MDB).
O candidato afirmou que, se eleito para a presidência, terá como objetivo defender o trabalhador, o povo e classe média, mas sem se esquecer de incentivar as indústrias do Brasil. “Não é só aos trabalhadores e aos pobres a quem devo primeiro a minha atenção. O colapso da economia brasileira atinge também de forma grave aqueles que estão na ponta de nossa indústria e de nosso comércio”. Foi o primeiro dos acenos a parceiros que ainda desconfiam dele. No início do mês, durante evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ciro chegou a ser vaiado pela elite do empresariado por dizer que poderia rever a reforma trabalhista, lei que foi aprovada após intenso lobby dos industriais.
No evento desta sexta, no entanto, o pedetista também aproveitou para criticar os bancos que “lucram apenas com os pagamentos de juros” e se comprometeu a aumentar a competitividade no setor. Reclamou, por exemplo, que nos últimos anos o país pagou 380 bilhões de reais “a plutocratas do baronato financeiro”. E tentou desmistificar um discurso comum entre parte de representantes do mercado financeiro, de que ele poderia deixar de pagar parte da dívida internacional. “Não cabe aventura, ruptura, nem desrespeito aos contratos. Isso nunca resolveu problema de nação nenhuma”.
Em todo o momento, esteve também ao lado de mulheres sua esposa Gisele, a filha Lívia e a neta Maria Clara se revezavam e vestiam camisetas ou usavam adesivos com os dizeres: “todas com o Ciro”. Uma mensagem para tentar atrair o eleitorado feminino, onde tem alta rejeição. Entre os cinco primeiros colocados na disputa, o pedetista e Jair Bolsonaro (PSL) registram as maiores diferenças entre votos de homens e mulheres, de acordo com a pesquisa Datafolha de junho. A imagem de que Ciro seria machista deve ser explorada na campanha presidencial por seus adversários devido, especialmente, a uma polêmica de 2002, quando ele afirmou à imprensa que o papel de sua então companheira, a atriz Patrícia Pillar, seria o de “dormir com ele” na campanha. Para piorar, recentemente chamou de “filho da puta”, sem saber que xingava uma mulher, uma promotora que pediu a abertura de uma investigação contra ele por injúria racial, em um caso em que chamou o vereador negro de direita, Fernando Holiday, de “capitão do mato”.
Centrão distante
A convenção que oficializou a candidatura de Ciro ocorre um dia após a cúpula dos partidos do centrão sinalizar que vai aderir à coligação de Geraldo Alckmin (PSDB) à presidência. O PDT negociava o apoio deste grupo de legendas, formado por DEM, PR, PRB, PP e SD. Mas economistas dos dois lados não chegaram a um consenso sobre a política financeira a ser implantada em um eventual Governo do pedetista, por isso a debandada para o ninho tucano é dada como quase certa. Ainda que a campanha de Ciro não confirme. “Não houve nenhuma palavra oficial de nenhum presidente de partidos do centrão. Então preferimos aguardar”, disse Cid Gomes, irmão de Ciro e coordenador de sua campanha presidencial.
Neste momento, o PDT está próximo de anunciar um acordo com o PSB, mas também sonda o PCdoB, que lançou Manuela D’ávila como pré-candidata. No caso dos socialistas, se a aliança se formalizar, o empresário e ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda deverá ser o indicado para vice. O apoio das duas legendas, no entanto, também não é visto como certo, já que ambas ainda negociam paralelamente com o Partido dos Trabalhadores. Alegando uma viagem de campanha, Ciro deixou a convenção sem atender à imprensa. Preferiu, desta vez, se manifestar apenas por discursos.