Filme que reconta o processo que levou ao impeachment de Dilma Rousseff concorre a uma estatueta de melhor documentário
A crise democrática do Brasil e o turbilhão político dos últimos anos desfilarão no tapete vermelho do Oscar 2020, no dia 9 de fevereiro. Democracia em vertigem, de Petra Costa, concorre à estatueta dourada na categoria de melhor documentário, conforme anunciado pela Academy Awards na manhã desta segunda-feira. A produção brasileira concorrerá com American factory, The cave, For Sama e Honeyland.
O longa, que estreou na Netflix em 19 de junho, mostra o agitado mar dos últimos anos da pós-redemocratização brasileira, cujo ato central é o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016 —e a despedida do Partido dos Trabalhadores (PT) do poder, lugar que a sigla de Luiz Inácio Lula da Silva ocupava havia 13 anos— e que culminou na eleição do ultradireitista Jair Bolsonaro em 2018.
A diretora usou o Twitter para dizer que ela e sua equipe estão “extasiados” com a indicação. “Numa época em que a extrema direita está se espalhando como uma epidemia esperamos que esse filme possa ajudar a entender como é crucial proteger nossas democracias”, escreveu.
Estamos extasiados pela @TheAcademy ter reconhecido a urgência de #DemocraciaEmVertigem. Numa época em que a extrema direita está se espalhando como uma epidemia esperamos que esse filme possa ajudar a entender como é crucial proteger nossas democracias. Viva o cinema Brasileiro!
Com sua já característica maneira de dirigir, Costa torna-se também protagonista do documentário —como já havia feito em Elena— ao contar as mudanças advindas das políticas sociais do PT, os erros do partido em sua relação com o Congresso e com as bases nas ruas e a eleição de Rousseff, uma “candidata por acaso”, passando pelos protestos que tomaram as principais cidades brasileiras entre 2013 e 2016 e pela Operação Lava Jato. Em meio à vertigem de acontecimentos, aparecem também personagens coadjuvantes, como Eduardo Cunha, o presidente da Câmara que autorizou o processo de impeachment e, meses depois, acabou preso por corrupção, e Michel Temer.
Antes de chegar ao Oscar, Democracia em vertigem já havia sido aclamado em Sundance, em janeiro de 2019, quando abriu o festival e foi ovacionado pelo público. Para a audiência estrangeira, o documentário tornou-se uma espécie de espelho do contexto político contemporâneo global, com a extrema direita ganhando terreno mesmo em democracias consolidadas, na era das fake news e do Brexit. Em dezembro, o documentário foi incluído na lista de melhores filmes do ano do The New York Times. “Ánálise cuidadosa dos eventos que levaram à eleição de Jair Bolsonaro, o presidente populista do Brasil, este documentário angustiante é o filme mais assustador do ano”, definiu o jornal norte-americano.