Nota de demissão foi lida por porta-voz do Planalto nesta segunda. Desfecho sem sequelas depende de reação de ex-ministro e reverberação na base do Congresso
O presidente não detalhou quais seriam os desentendimentos ou interpretações equivocadas, o que foi lido como uma tentativa de evitar que Bebianno, de 54 anos, se torne um homem-bomba, já que, pela proximidade com o presidente e por ter coordenado toda a sua campanha eleitoral, teve acesso a informações que poucos tiveram
Influência da família e sequelas políticas
O desfecho com a demissão de Bebianno é uma tentativa de por fim aos ruídos no círculo mais íntimo da presidência enquanto o Governo tenta levar adiante agendas que dependem do Congresso, como a reforma da Previdência, cujo projeto deve ser enviado na quarta-feira. No entanto, os dias de idas e vindas e as mensagens públicas –e mais ou menos públicas– trocadas entre os protagonistas da novela sinalizam que pode haver mais capítulos.
A fritura de Bebianno começou na quarta-feira passada, quando o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), disse que o então ministro havia mentido que ele tinha conversado três vezes com seu pai pelo telefone para tratar das denúncias sobre candidaturas laranjas do PSL em Pernambuco. Reportagens da Folha de S. Paulo publicadas nas últimas duas semanas mostraram indícios de que o partido do presidente lançou candidaturas femininas de fachada apenas para atingir a cota de 30% de mulheres candidatas. Uma delas teria recebido 400.000 reais de fundo partidário e recebido apenas 274 votos.
Desde que o presidente sinalizou que demitiria Bebianno, o então ministro passou a fazer ameaças. Dizia que não pediria demissão e que não cairia sozinho. Por ora, Bebianno ainda não se manifestou sobre sua exoneração. Para amenizar eventuais críticas e para evitar que seu antigo assessor, o presidente chegou a oferecer dois cargos a ele: conselheiro na estatal Itaipu ou embaixador do Brasil em Roma. O primeiro cargo foi refutado por Bebianno, apesar de receber quase três vezes o salário de um ministro. O segundo estava sendo analisado. Até a conclusão dessa reportagem, não houve o anúncio sobre decisão do ex-ministro. Quando questionado sobre essa oferta, o porta-voz presidencial disse desconhecer essa informação.
Otávio Rêgo Barros também não soube dizer se Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), o ministro do Turismo, que é apontado como patrocinador de candidaturas laranjas em Minas Gerais, também teria o mesmo fim que Bebianno. Nas redes sociais, apoiadores do presidente e família promoviam uma hashtag de apoio para sinalizar que a crise estava debelada.
Agora, resta saber se haverá sequelas da decisão de Bolsonaro, para além da reação do ex-ministro. Na semana passada, tanto o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, como a ala militar do Governo defenderam Bebianno. No caso de Maia, foi explícita à crítica sobre a influência do filho de Bolsonaro nos rumos do Governo, e nos bastidores os militares avaliavam o mesmo. “(É um) risco muito grande pra um Governo que precisa analisar a liderança, unidade, porque vai ter desafios importantes começando pela Previdência”, disse Maia ao G1.