Em 14 de julho de 1793, estudando no Seminário da Igreja Luterana em Tübingen, sul da Alemanha, e antes de completar 22 anos de idade, Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 –1831), juntamente com seus amigos de juventude Friedrich Wilhelm Joseph Schelling (1775-1854) e Johann Christian Friedrich Hölderlin (1770-1843), planta uma “arvore da liberdade” em homenagem à Revolução Francesa (14 de julho de 1789) e à proclamação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (26 de agosto de 1789).
A Revolução burguesa e seus desdobramentos foram então os elementos radical-constitutivos ao surgimento em Hegel de uma nova teoria sobre o ser realmente existente, sobre o mundo, sobre a natureza, sobre o gênero humano, sobre a história e dá, assim, vida a uma nova ontologia que anuncia pela primeira vez, desde a aparição do primeiro Homo Sapiens, que a história da humanidade é feita pelos próprios seres humanos, que se explicam a si mesmos, que fazem a sua própria história.
Nocauteia as antigas e petrificadas ontologias animistas e religiosas expressas historicamente nas sociedades primitivas, em Aristóteles (384 a.C.-322 a.C), Santo Agostinho (354 d.C.-430 d.C), Tomás de Aquino (1225-1274) – todas centradas numa ontologia dualista mítico-religiosa e mítico-classista entre o mundo da essência eterno, fixo, imutável e dirigente e o mundo fenomênico dirigido e em transformação – e supera o idealismo transcendental e o agnosticismo do ser existente de Immanuel Kant (1724-1804).
Na primeira sistematização da história da humanidade expressa na sua obra Fenomenologia do Espírito (1807), afirma: “não é difícil ver que o nosso tempo é um tempo de nascimento e passagem para um novo período. O espírito rompeu com o mundo de seu existir e do seu representar que até subsistia (…). Esse lento desmoronar-se, que não alterava os traços fisionômicos do todo, é interrompido pela aurora que, num clarão, descobre de uma só vez a estrutura de um novo mundo”.
A Revolução, para ele, consagra a liberdade e dá-se o fim da história, pois não haveria outra sociedade senão aquela proclamada por 1789: a burguesa e o seu último homem, o burguês. Foi Hegel quem disse que ninguém poderia ir além de seu próprio tempo. O mundo que vislumbrou ruiu e levou junto consigo seu sistema, que mereceu os tiros de misericórdia cognitivo-práticos e epistemológicos tanto de Ludwig Andreas Feuerbach (1804-1872) quanto de Karl Marx (1818-1883), que, como disse Evald Vasilievich Ilyenkov (1924-1979), foi quem uniu magistralmente a mais elevada cultura filosófico-lógica com o mais elevado da cultura econômico-política.
Nesses 250 anos de seu nascimento, e na busca pela emancipação humana, plantemos em sua homenagem uma árvore, mas a árvore de Johann Wolfgang Von Goethe (1749-1832), para quem: “Toda teoria é cinzenta. Verde e frondosa é a árvore da vida.”
*Eduardo Rocha é economista