Roberto Freire: Economia da cultura e o mundo do futuro

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A repercussão francamente positiva do lançamento da Coleção Atlas Econômico da Cultura Brasileira, no último dia 5 de abril, em São Paulo, mostra o acerto do Ministério da Cultura ao promover essa iniciativa e a necessidade de trabalharmos no sentido de construir uma ferramenta para valorizar o setor cultural e compreender sua importância na composição do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Afinal, é disso que se trata: dimensionar o impacto da cultura na economia do país por meio de metodologia e critérios unificados de aferição.

Atualmente, não há um sistema unificado e padronizado que tenha condições de medir, com precisão, a participação da Cultura no conjunto de todos os bens e serviços produzidos no país. Conhecido como “PIB da Cultura”, esse mecanismo existe em 21 países, sete dos quais na América do Sul (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Uruguai). No Brasil, até este momento, os dados disponíveis não são apresentados com a periodicidade necessária, de modo que não podem ser comparados, e também não há consenso sobre quais os setores que deveriam ser acompanhados.

É importante termos a consciência de que a cultura já exerce um papel central na economia e será cada vez mais importante. O planeta vem passando pela maior revolução que a aventura humana já experimentou, com profundas mudanças que afetam a sociedade, as relações e as instituições, e todos nós devemos nos preparar para essa nova realidade. Ainda não é possível saber ao certo onde iremos chegar, mas não há dúvida de que esse mundo do futuro é um dado da realidade e vem sendo construído aqui e agora, bem diante dos nossos olhos.

Inicialmente, foram lançados os dois primeiros volumes de um total de seis obras do Atlas Econômico da Cultura Brasileira, elaborado em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS). Em junho deste ano, deve ser divulgado o terceiro livro – e a conclusão da obra completa está prevista para abril de 2018. Também serão publicados cadernos setoriais com informações específicas sobre a cadeia produtiva de setores que compõem a economia da cultura.

Neste primeiro momento, os dois volumes trazem, fundamentalmente, o marco referencial teórico e metodológico que será utilizado para a aferição dos dados. O estudo está apoiado em quatro eixos principais: empreendimentos culturais, mão-de-obra do setor cultural, investimentos públicos e comércio exterior. Entre as cadeias produtivas que serão estudadas de forma prioritária, estão o audiovisual, os games, o mercado editorial, a música e os museus e patrimônio.

É evidente que o fato de a expressão econômica da cultura ser pouco dimensionada no Brasil dissemina na opinião pública a impressão de que o setor não tem um grande impacto no conjunto de riquezas produzidas pelo país. O Atlas serve também para desmistificar essa tese equivocada, pois mostra a importância de se investir na cultura para movimentar a economia e fazê-la crescer, especialmente em um momento de crise como o que vivemos.

Segundo estimativas do Banco Mundial, a cadeia produtiva da cultura foi responsável por nada menos que 7% do PIB mundial em 2008. Em 2010, os setores culturais representavam cerca de 4% do PIB anual brasileiro. Algumas pesquisas publicadas no Atlas mensuram a importância dos processos econômicos engendrados a partir de organizações e agentes culturais no país. Em 2016, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), os setores da economia criativa representaram algo em torno de 2,6% do PIB, o equivalente a R$ 155,6 bilhões de produção, com um crescimento acumulado de quase 10% em dez anos e representando 3,5% da cesta de exportação brasileira.

No segundo volume do Atlas, o artigo intitulado “Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil: Os Profissionais Criativos no Cenário de Crise”, de autoria dos pesquisadores Tatiana Sánchez, Joana Siqueira, Cesar Bedran e Gabriel Bichara Santini Pinto, mostra que os trabalhadores criativos apresentaram salários superiores em relação à remuneração média entre 2013 e 2015. Entende-se como trabalhador criativo o profissional que atua na indústria criativa – aquela que utiliza a cultura como insumo e cujo propósito é a fabricação de produtos funcionais (é o caso da arquitetura e do design, por exemplo).

A economia da cultura é resultado de um processo irrefreável em direção ao mundo do futuro. Essa nova sociedade, formada a partir de interações e relações pessoais e profissionais totalmente diferentes daquelas às quais estávamos acostumados, ainda é uma incógnita – mas será nela que vamos todos nos inserir daqui por diante. A cultura tem importância fundamental na construção desse novo mundo, e o Brasil não pode desperdiçar a oportunidade de se posicionar na vanguarda. O futuro já chegou, e é para ele que o Atlas Econômico da Cultura Brasileira aponta.

*Roberto Freire é ministro da Cultura

** Foto: Da esquerda para a direita, ministro Roberto Freire, secretário Mansur Bassit e Leandro Valiati (Foto: Fábio Matos/Ascom MinC)

Fonte: (Blog do Noblat/O Globo – 20/04/2017)

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