Destruição do Cerrado ‘empurra’ mosquito da dengue para as cidades

Trabalho demonstra que perda do hábitat e redução de predadores naturais fazem com que vírus se espalhe para áreas urbanas; incidência em algumas regiões, como Minas, pode quase dobrar

Roberta Jansen / O Estado de S.Paulo

RIO – Um estudo de cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), publicado na revista científica PLOS, demonstra que o avanço da destruição do Cerrado está diretamente ligado ao aumento do número de casos de dengue na região. O trabalho mostra que, se o ritmo do desmatamento continuar semelhante ao atual, em 2030 toda a área do Cerrado terá um aumento considerável dos casos da doença, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, de origem africana.

“O aumento dos casos de dengue está relacionado à redução da cobertura vegetal do Cerrado”, afirma o engenheiro florestal Arlindo Ananias Pereira da Silva, da Unesp, principal autor do estudo. “Se não houver política pública específica e regionalizada, algumas regiões vão ter um impacto muito grande.”

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O Estado de maior preocupação é Minas Gerais. Dos atuais 2,2 mil casos por 100 mil habitantes, os registros da doença pulariam para 4 mil por 100 mil habitantes. Para impedir que a projeção se concretize, alertam os cientistas, o País terá que controlar o desmatamento e adotar novas políticas ambientais e de saúde pública.

Em 2020, houve em todo o mundo 2,7 milhões de casos de dengue. Desse total, 36,5% foram  no Brasil. Mais da metade deles foi registrada no Cerrado. De 2008 a 2019, a dengue matou 6,4 mil pessoas em território brasileiro.

Desmate e monocultura, com mais calor e menos predadores, favorecem o Aedes

O avanço do Aedes aegypti em áreas tropicais é relacionado à urbanização, sobretudo em cidades sem infraestrutura de saneamento básico. A perda do hábitat e a redução de predadores naturais ‘empurra’ o inseto para  áreas urbanizadas, espalhando a dengue.

“Quando o mosquito está inserido em ambiente florestal, há meios de controle, com os predadores e também por conta da cobertura vegetal, o microclima”, explica o pesquisador. “Com o desmatamento e a monocultura, você aumenta as temperaturas, amplia a oferta de alimento e reduz os predadores naturais; isso é tudo o que o mosquito quer para se reproduzir.”

O Cerrado ocupava originalmente pouco mais de 20% do território brasileiro. Mas, desde o início dos anos 70, sofre grande pressão do agronegócio, intensificada nos anos posteriores. Desde 2005, segundo o trabalho, a taxa de desmatamento vinha diminuindo. Mas em 2020 houve um aumento de 13,2% em comparação ao ano anterior. Atualmente, o bioma concentra a maior parte da produção agropecuária do País.

Depois da Mata Atlântica, o Cerrado é o bioma que mais sofreu alterações por causa da ocupação humana. É considerado um dos 25 ecossistemas do planeta em alto risco de extinção. Atualmente, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, restam aproximadamente 34% da área original do Cerrado. Cientistas mais pessimistas acham que, até 2030, o ecossistema pode estar totalmente destruído.

desmatamento cerrado chapada dos veadeiros
Fotografia aérea da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, mostra novos pontos de desmatamento e mineração irregular em áreas nativas do Cerrado, em 26 de junho de 2020. Desmatamento do bioma empurra dengue para as cidades, afirma pesquisa Foto: Prefeitura de Cavalcante/GO

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Fonte: O Estado de S. Paulo
https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,destruicao-do-cerrado-empurra-dengue-para-cidades-mostra-pesquisa,70003954613

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