Maior desafio de Biden é tirar de casa o eleitor que está cansado de tudo
O entranhado racismo da sociedade norte-americana tem tido grande destaque na campanha eleitoral. A figura de George Floyd, assassinado em maio por um policial branco, pairou sobre a convenção democrata. A escolha da vice de Joe Biden, Kamala Harris, já fora um sinal do impacto do movimento Black Lives Matter.
Esse não é um tema em que o atual presidente, Donald Trump, fique confortável. Seu histórico fala por si. E é aí que as coisas se tornam um pouco mais complexas. Dias atrás, vieram a público as imagens de outro homem negro, Jacob Blake, alvejado por um policial branco com vários tiros nas costas.
Esse inconcebível caso de brutalidade policial contra negros desencadeou nova onda de protestos. Alguns terminaram em saques e incêndios. Nesses primeiros dias de convenção republicana, Trump e seus apoiadores têm tentado mostrar os democratas como “extremistas”, “socialistas”, “radicais de esquerda”, que vão “roubar” a eleição e “tirar” as armas dos cidadãos. Particularmente chocante foi a participação, na convenção, de um casal branco que ficou famoso por apontar armas para manifestantes pacíficos, que pediam justiça para Floyd.
O tom da convenção republicana tem sido acentuar clivagens na sociedade norte-americana e açular o ódio e o medo. Isso vai afastar ou atrair eleitores de centro? Uma coisa parece certa: Trump tem conseguido manter sua base coesa.
Já os democratas formaram uma frente que vai da esquerda do partido até republicanos insatisfeitos com o presidente. Não é pouca coisa. Mas não garante a vitória. No sistema de votação dos Estados Unidos, nem sempre quem ganha no voto popular leva no colégio eleitoral, esta, sim, a eleição decisiva. Hillary Clinton que o diga.
Nos EUA, o voto não é obrigatório. Por isso, mesmo à frente nas pesquisas, talvez o maior desafio de Joe Biden seja tirar de casa o eleitor que está cansado de tudo: da pandemia, do desemprego e da política.