Fragmentação é caminho suicida para oposição progressista
Aos 20 meses de governo, Bolsonaro já está em campanha pela reeleição e avança sobre o terreno adversário, o Nordeste, embalado pelo auxílio emergencial e a melhora expressiva de sua aprovação.
De olho em 2022, ele testa até onde pode furar o teto de gastos sem entrar na “zona sombria” do impeachment, como ameaçou Paulo Guedes. Bolsonaro tem se mostrado um especialista em esticar a corda e parar antes que ela arrebente. Poderá usar essa habilidade para administrar as pressões de seu ministro e do “mercado” enquanto sonha com obras, gastos e o segundo mandato.
É cedo para saber se isso dará certo. Seguro mesmo é que pesquisas anteriores ao último Datafolha já mostravam que Bolsonaro retém taxa de aprovação sólida como granito em torno de 30%. É um desafio entender tal patamar de aprovação, considerando o comando desastroso desde o começo da pandemia. Nem a demissão do popular ministro da Saúde abalou esse percentual, muito menos a do ministro da Justiça, decisivo na ascensão de Bolsonaro.
Artigo recente do professor da Uerj João Cezar de Castro Rocha, na Ilustríssima, joga luzes sobre a “esfinge” Bolsonaro. Identifica doutrinas militares da ditadura e da Guerra Fria —adaptadas para tempos democráticos— e a linguagem do “olavismo” como elementos que dão coesão à visão de mundo bolsonarista.
Eu acrescentaria o fundamentalismo religioso e o afrouxamento das regras sobre posse, porte e compra de armas, sob medida para as milícias, e temos um projeto de sabotagem da República e da democracia.
Diante de tudo isso, o que a oposição progressista deveria fazer? Na Hungria, do ultradireitista Viktor Orbán, há uma década no poder, finalmente os seis principais partidos de oposição anunciaram que vão concorrer com candidato e programa únicos em 2022. Essa estratégia mostrou-se vitoriosa nas eleições municipais do ano passado em Budapeste e em outras cidades. Que nos sirva de exemplo para evitar o caminho suicida da fragmentação.
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