Maior rede social do mundo começa a se dar conta do tamanho de sua responsabilidade. Felizmente
O Facebook tirou este início de ano para discutir seu papel no mundo e, na medida do possível, fazer as pazes com os usuários. Depois das mudanças no newsfeed anunciadas por Mark Zuckerberg na semana passada, seus executivos vêm discutindo, à exaustão, a influência das redes sociais na política e nas eleições, e o perigo que podem representar (ou não) para a manutenção das democracias. Parte dessas discussões está na página de imprensa do Facebook, em posts escritos tanto por diretores da casa quanto por comentaristas convidados. O primeiro deles é de Cass Sunstein, especialista em direito constitucional que trabalhou com Barack Obama, escreveu vários livros sobre as relações entre sociedade e governo e, atualmente, é professor em Harvard. Outros posts a serem publicados em breve têm como autores Toomas Hendrik Ilves, ex-presidente da Estônia e especialista em mídias sociais, e Ariadne Vromen, professora de participação política da Universidade de Sydney, na Austrália.
É uma conversa interessante e necessária, e pode ser encontrada na categoria “Hard Questions” em newsroom.fb.com. É um pouco difícil chegar lá, já que o sistema insiste em jogar usuários brasileiros para a página br.newsroom.fb.com (onde ainda não há “perguntas difíceis”); indo via bit.ly/2F2RZmP tudo se resolve. O material está em inglês, mas o tradutor do Google faz um trabalho razoavelmente aceitável com textos assim, sem maiores nuances literárias. O resumo da ópera é simples: com grandes poderes vêm grandes responsabilidades, e o Facebook começa a reconhecer isso.
“Se existe uma verdade fundamental sobre o impacto das redes sociais na democracia, é que elas amplificam a intenção humana — seja para o bem, seja para o mal” — escreve Samidh Chakrabarti, diretor de engajamento cívico do Facebook. “No seu melhor, elas nos dão voz e permitem que atuemos. No seu pior, permitem a divulgação da desinformação e corroem a democracia. Eu gostaria de poder garantir que os aspectos positivos estão fadados a superar os negativos, mas não posso.”
Pois é: ninguém jamais vai poder garantir que um dia o bem triunfará sobre o mal, porque não é assim que acontece na vida real. Redes sociais são reflexos das sociedades que as utilizam, e, por mais que tantos usuários se empenhem em criar mundos ideais nas suas páginas, o ser humano continua sendo o ser humano, descendente daquele hominídeo que, ainda nas cavernas, já fazia uso de ferramentas para liquidar com os vizinhos.
Fico feliz em ver o Facebook finalmente empenhado nessa discussão, porque uma empresa com o seu alcance tem que ter a perfeita compreensão de como é utilizada e do mal que pode eventualmente vir a causar.
Mas, dito isso, não acredito, pessoalmente, que as notícias falsas tenham tido um papel tão relevante nas eleições nos Estados Unidos quanto a imprensa local supõe. Notícias políticas falsas reforçam posições e ódios, mas não mudam opiniões. Em política, pelo que temos visto por aqui, nem notícias verdadeiras conseguem mudar opiniões: basta ver a quantidade de petistas convencidos da inocência de Lula ou, inversamente, a quantidade de fãs do Bolsonaro crentes que o seu herói é a alma mais honesta do Brasil.
Ah, isso foi o outro que disse? Tanto faz, dá na mesma.