Reflexões e especulações marcaram, em São Paulo, lançamento do livro Construção da Democracia no Brasil, 1985-2025: Mudanças, metamorfoses, transformismos
Comunicação FAP
O historiador Alberto Aggio alertou para a possibilidade de pulverização de candidaturas presidenciais nas eleições de 2026. Essa análise marcou, na quarta-feira (2/4), em São Paulo, o lançamento do livro A Construção da Democracia no Brasil, 1985-2025: Mudanças, metamorfoses, transformismos (232 páginas), de sua autoria. A obra foi editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), vinculada ao Cidadania 23, e pela Annablume. Segundo o autor, o cenário político, marcado pela erosão da popularidade do presidente Lula e pelos imbróglios judiciais do ex-presidente Bolsonaro, favorece o surgimento de diversas candidaturas, o que, acrescentou, pode apresentar riscos, assim como a polarização.
“O cenário político caminha para pulverização de candidaturas diferenciadas, e, talvez, as eleições de 2026 possam ser semelhantes às de 1989, quando se apresentaram 11 candidaturas”, disse o autor do livro, que é parte do projeto 40 anos de democracia no Brasil, organizado pela FAP e pelo partido. Aggio é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP), livre-docente e titular pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Também tem pós-doutorado pela Universidade de Valência, na Espanha, e pela Universidade Roma Tre, na Itália.










Antipetismo
O professor lembra as eleições de 2018, quando a prisão de Lula impulsionou a candidatura de Bolsonaro, que, de acordo com o autor, não foi resultado de pulverização, mas do antipetismo. “O grande líder do petismo estava preso, e a candidatura de Bolsonaro apareceu como a mais viável para impedir a reprodução do petismo. Era o antipetismo, ainda existente, que predominava, mesmo antes das eleições, da apresentação das candidaturas”, acentuou.
A erosão da popularidade de Lula, segundo o autor, pode dificultar a candidatura do petista em 2026. “Se as pesquisas mostrarem que a erosão vai se aprofundar, poderá ficar difícil para Lula ser candidato”, analisa. Além do antipetismo, de acordo com ele, outro elemento importante é a definição de possíveis nomes que poderiam derrotar o presidente e o seu partido. “Podem aparecer vários candidatos, e a tendência, se Lula não for candidato, se o antipetismo não for elemento importante na disputa eleitoral, é que várias facções vão dizer que seus candidatos representam o futuro melhor para o país”, acrescentou.
No entanto, o historiador destacou que tanto a polarização quanto a pulverização de candidaturas são negativas para a democracia. “A polarização já mostrou que é ruim, mas a pulverização também é. São dois cenários: um que a gente já conhece, que é o da polarização e bloqueia o debate. Na polarização entre Lula e Bolsonaro, entre Bolsonaro e petismo, ninguém ouve ninguém”, afirmou Aggio.
“Ruído geral”
“Se formos para o terreno da pulverização, o que teremos são muitas falas simultaneamente. Haverá uma espécie de ruído geral, mas na política não tem vazio. Alguém vai se sobressair. No cenário de pulverização, os dois que vão para o segundo turno representarão cerca de 20% do eleitorado brasileiro cada um deles, tomando como referência o cenário de 1989 vivido no país. Nesse caso, os dois candidatos não vão representar a maioria do eleitorado. O restante ficou fora”, disse.
O professor afirmou, ainda, que o sistema político eleitoral está deixando de representar fielmente os interesses da maioria da população. “O cenário da polarização é de bloqueio. Na pulverização, corre-se o risco de uma representação muito baixa dos que vão para o segundo turno”, ressaltou, para enfatizar que o momento exige cautela e atenção. “Estamos em um momento em que, por diversas razões, fomos parar nessa circunstância. Vamos ver como os candidatos irão se apresentar e como o cenário político vai se configurar”, pondera.
Live e lançamentos
Aggio vai participar, na terça-feira (8/4), a partir das 19 horas, da live “Como compreender os 40 anos da Nova República?”, que será realizada pelo Instituto de Estudos e Pesquisas para o Fortalecimento da Democracia (IEPFD), com transmissão no canal do instituto no Youtube.
Novo lançamento do livro está previsto para o dia 24 de abril, em Recife. Também há previsão de ser lançado, em maio, no Rio de Janeiro. Assim como em São Paulo, o trabalho já foi lançado em Brasília, em 14 de março deste ano, um dia antes da data de celebração do fim da ditadura militar no país.
O processo de construção democrática dos últimos 40 anos no Brasil, segundo o texto, defronta-se hoje com um cenário global no qual os desafios à democracia são cada vez mais evidentes. “Tal situação produz mal-estar e desorientação ao conjunto da sociedade brasileira”, diz um trecho.