Artur Rozestraten, Diogo Augusto Mondini Pereira, Gabriel Mazzola Poli de Figueiredo e Tuca Vieira participaram de ciclo de debates de lançamento da Política Democrática
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
A cidade de São Paulo oferece “frestas poéticas”, apesar de sua característica predominantemente caótica e onde a busca pela modernidade não redundou, necessariamente, no moderno. A avaliação é de especialistas que participaram, na noite desta quarta-feira (21), do quarto e penúltimo encontro online do ciclo de debates A reinvenção das cidades, mesmo título da 55ª edição da revista Política Democrática impressa, produzida pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira) em parceria com a Tema Editorial.
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Os webinars integram a programação de lançamento da revista, que ocorreu no dia 30 de setembro. Participaram do quarto debate o professor Artur Rozestraten, da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), o arquiteto e urbanista Diogo Augusto Mondini Pereira, o engenheiro eletrônico Gabriel Mazzola Poli de Figueiredo e o fotógrafo Tuca Vieira, autor do premiado Altas Fotográfico da cidade de São Paulo.
Confira o vídeo!
Integrantes do grupo de pesquisa RITe (Representações: Imaginário e Tecnologia) junto ao CRI2i (Centre de Recherches Internationales sur L’Imaginaire), Rozestraten, Pereira e Figueiredo produziram, em coautoria, a análise A cidade de São Paulo do futuro no presente descontínuo, que o tempo todo dialoga com fotografias de Vieira. O texto está publicado na terceira parte da revista Política Democrática.
“A compreensão de São Paulo como uma totalidade demanda a construção abstrata da interdependência entre uma descontinuidade de lugares distintos com identidades próprias, que, como microcosmos relativamente autônomos, constituem no espaço a tessitura de um todo: uma galáxia luminosa e enigmática, como a imagem que vemos pela janela do avião à noite antes de aterrissar em Cumbica”, diz um trecho do texto.
Dimensão do imaginário
Durante sua apresentação, Rozestraten explicou que eles começaram a produzir a análise a partir da dimensão do imaginário em torno da cidade de São Paulo, transformado pela situação singular da pandemia. “Tentamos fazer uma reflexão que partisse da inquietação, dúvida, para compreender o fenômeno urbano”, afirmou, ressaltando que a análise avança para uma linha mais especulativa e projetual, já que contempla incógnitas e imprevisibilidades.
“A redação era motivada por imagens, e estava muito presente a produção do Tuca Vieira, com material que ele estava compartilhando no Instagram”, disse o professor da USP. “Percebemos que a construção do texto não conferia às imagens papel ilustrativo, mas estrutural dentro dele. O texto passa por distintas imagens do universo da literatura, do cinema, da música e da arquitetura, fortalecendo o imaginário”, asseverou.
Pereira, por sua vez, lembrou que São Paulo seria um modelo do desenvolvimentismo brasileiro. “Uma modernidade que não redundou num país moderno, mas que oferece frestas poéticas, como o minhocão, uma estrutura da ditadura militar que se tornou espaço público transformado, de liberdade”, ressaltou, acrescentando que a via também virou espaço para lazer e atividades culturais.
As frestas poéticas são analisadas pelos autores no texto publicado na revista Política Democrática. “Se uma dimensão corporativa, especulativa, desenha esta cidade diante de uma lógica de rentabilização do solo, diante da privatização dos espaços públicos, da segurança e da vida urbana, São Paulo apresenta frestas poéticas, nas quais ainda se pode vislumbrar sua natureza primeira, como o Pico do Jaraguá a partir das marginais, o perfil da Serra da Cantareira desde a região central da Luz”, afirma um trecho.
Cidades inteligentes
Já Figueiredo chamou a atenção para as chamadas “cidades inteligentes”, modelo defendido nas promessas de campanha de muitos candidatos a prefeito dos municípios brasileiros. “Pessoal, quando fala de cidades inteligentes, já chega querendo apresentar solução, resolver, vender projeto, sendo que, muitas vezes, a gente sequer sabe como funciona a dinâmica urbana”, criticou. “Cidades inteligentes é um tema guarda-chuva. Tem uma série de tecnologias e visões de cidades, mas é o tema da vez. Todo mundo quer cidades inteligentes”, disse, em outro momento.
De acordo com o engenheiro eletrônico, é preciso se pensar nos impactos sistêmicos da tecnologia. “Se quer pensar como vamos usar tecnologia para transformar as cidades e produzir resultados que levem a ganho de vida, à redução da desigualdade e à ampliação de acesso das pessoas a elas, é necessário qualificar o debate e pensar de maneira sistêmica e tentar entender uma forma de projetar com o grau de complexidade”, afirmou. Para ele, é necessário desenvolver novas técnicas cognitivas, ferramentas educacionais e olhar voltado não para fornecer solução, mas para questionar as cidades com olhar crítico.
O fotógrafo, em sua apresentação, questionou o uso da palavra cidade para se referir a São Paulo. “A gente continua usando a mesma palavra cidade, desde pequenos povoados até uma megalópole como São Paulo”, afirmou. “A gente segue tentando enquadrar São Paulo nessa definição, mas, para mim, ela cresceu tanto que rompeu, em determinado momento, e se tornou outra coisa. Enfrentar essa questão é fundamental. A palavra cidade também é uma representação da cidade”, disse.
A série de debates tem mediação do sociólogo e diretor da FAP Caetano Araújo, que também é professor da UnB (Universidade de Brasília), e participação permanente da jornalista Beth Cataldo, da Tema Editorial. Todos webinars da Política Democrática são transmitidos no site e na página da fundação no Facebook, nos quais os vídeos ficam disponíveis para internautas, que também podem conferir a discussão dos especialistas no canal da entidade no Youtube.
Ficha técnica
Título: A reinvenção das cidades – Revista Política Democrática edição 55
Número de páginas: 282
Projeto gráfico e diagramação: Rosivan Pereira
Revisão textual: Mariana Ribeiro
Preço versão impressa: R$ 45,00
Publicação: Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e Tema Editorial
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