Fracasso de apadrinhados e vitórias do centrão podem mostrar que presidente não é ator decisivo
Nas últimas eleições, alguns políticos chegaram a passar vergonha quando buscavam o apoio de Jair Bolsonaro. Um candidato a governador pegou um avião até o Rio só para tentar aparecer ao lado do favorito na corrida presidencial. O sujeito tomou um bolo do capitão, mas continuou usando sua imagem na campanha mesmo assim.
Bolsonaro puxou muita gente na onda conservadora de 2018. As eleições municipais deste domingo sugerem que o cenário mudou. Enquanto candidatos associados ao presidente lutam com dificuldade por vagas no segundo turno, fica cada vez mais claro que ele não aparece mais como um cabo eleitoral decisivo.
Depois de prometer que não se envolveria nas disputas deste ano, Bolsonaro mudou de ideia e tratou seu apoio como um item disponível para um público seleto, escolhendo a dedo as corridas de que participaria. O fracasso de alguns de seus apadrinhados ameaça desvalorizar o passe do presidente no mundo político.
Os bolsonaristas podem se tornar uma nota de rodapé dessas eleições. Em Belo Horizonte, Bruno Engler (PRTB) abusou da imagem do presidente, mas não conseguiu passar dos 4% das intenções de voto. No Recife, Delegada Patrícia (Podemos) descolou um apoio na reta final da campanha. Ela ficou estagnada nas pesquisas, e sua rejeição disparou.
Nas duas maiores cidades do país, Bolsonaro não conseguiu produzir nem mesmo uma marola até aqui. Celso Russomanno (Republicanos) despencou, e Marcelo Crivella (Republicanos) passou a ser ameaçado por duas adversárias. Os dois candidatos ainda podem chegar ao segundo turno, mas será difícil vender a ideia de que o presidente os ajudou.
Além do risco de fiasco, Bolsonaro também precisa ficar atento ao desempenho de candidatos de sua base aliada que ficaram sem apoio oficial. Uma vitória em massa desses nomes mostraria ao centrão que a máquina do governo e o auxílio emergencial podem render frutos, mas também aumentaria as dúvidas sobre o peso político do presidente.