Com caciques fracos, votação de projetos pode ter negociação custosa no varejo
O terremoto que derrubou velhos políticos e provocou uma redistribuição de forças no Congresso no domingo ainda deve produzir abalos secundários. O poder de caciques, líderes e partidos ficou abalado. A lógica das futuras campanhas eleitorais e da composição de governos será posta à prova.
A estrutura das siglas, a hierarquia e a disciplina se tornaram acessórios nessa disputa. Jair Bolsonaro (PSL) se lançou à Presidência por uma legenda nanica e conseguiu 49 milhões de votos. Em muitos estados, candidatos esnobaram orientações de dirigentes e fizeram campanha com rivais de seus próprios partidos.
Deputados e senadores alinhados com os ideais de uma sigla sempre foram exceções. Ainda assim, as legendas conseguiam garantir a fidelidade de seus quadros com a distribuição de algumas recompensas, como cargos em governos e na estrutura partidária, além do financiamento de suas eleições.
Desta vez, o dinheiro das legendas valeu menos para as campanhas dos candidatos do que as ondas provocadas por figuras como Bolsonaro e Lula. Alguns deputados eleitos pelo PSL mal devem conhecer os integrantes do comando da sigla.
O próximo governo precisará formar maioria em um Legislativo composto por muitos políticos que estão filiados a suas legendas por mera formalidade. O intrépido Kim Kataguiri, recém-eleito deputado pelo DEM, ignorou sua legenda para se lançar à presidência da Câmara. “Não preciso da autorização de ninguém. Meu partido é o MBL”, disse.
Como a influência de líderes sobre as bancadas deve diminuir, a aprovação de projetos dependerá de negociações custosas no varejo, um a um. Na melhor hipótese, parlamentares poderiam cruzar fronteiras partidárias para votar em bloco alguns temas, mas se dispersariam depois.
Por maior que seja o desgaste das siglas, elas dão ao eleitor alguns atalhos para identificar políticos que falam sua língua. Com a degradação dessas estruturas, pode ser difícil encontrar uma mensagem no vozerio.