Na prática, Bolsonaro subordina meio ambiente aos ruralistas
Se ainda havia dúvida, Jair Bolsonaro deixou claro a quem seu ministro do Meio Ambiente deve servir —e, surpresa, não é ao meio ambiente. Num encontro com artistas, o presidente eleito gravou um vídeo e mandou recado ao agronegócio: “Gostaram do ministro do Meio Ambiente, né? Com toda a certeza”.
O novo governo aceitou manter uma pasta independente para cuidar do setor, mas a escolha do advogado Ricardo Salles sugere que, na prática, questões ambientais devem ficar subordinadas à pauta ruralista.
O futuro ministro fez questão de aparecer em uma gravação ao lado de Nabhan Garcia, presidente da entidade que simboliza os grandes proprietários de terras, a UDR (União Democrática Ruralista).
“Nós teremos um momento de total sinergia da agricultura com o meio ambiente. Respeito absoluto ao produtor rural, com todo o nosso apoio”, disse Salles, que vai supervisionar órgãos que têm o papel de fiscalizar também o agronegócio.
A reverência prestada pelo próximo chefe da gestão ambiental é grande. Na mensagem, ele chama Nabhan de ministro, embora o ruralista tenha sido indicado apenas secretário especial de Assuntos Fundiários.
O ruralista retribuiu com um elogio e emendou: “Ricardo Salles à frente do Ministério do Meio Ambiente significa o fim do Estado policialesco e o fim do Estado confiscatório em cima de quem produz no Brasil”.
O discurso é uma desculpa esfarrapada para afrouxar as punições previstas em lei contra quem pratica desmatamento. Entidades de proteção ambiental dizem que produtores rurais contribuem para devastações. Nabhan alega que o agronegócio colabora com a preservação.
Ao ser indicado, Salles disse tratar a defesa do meio ambiente como um valor “inafastável” e já afirmou ser favorável à permanência do Brasil no Acordo de Paris, que estabelece metas de redução de gases causadores do efeito estufa. Os sinais de Bolsonaro, porém, são de que os poderes do futuro ministro ficarão abaixo dos interesses do agronegócio.