Se depender de políticos e juízes de Brasília, presidente brasileiro já pode admitir que enganou o país
Donald Trump mentiu. Em 26 de fevereiro, o presidente americano declarou que, em pouco tempo, o país veria “cair para próximo de zero” o número de novos casos de contaminação por coronavírus.
É claro que nada disso aconteceu, e Trump sabia que era balela. Duas semanas antes, ele dissera numa conversa privada com o jornalista Bob Woodward que a doença era “muito complicada” e que o vírus se espalhava pelo ar. Depois, o presidente admitiu que havia escondido esses fatos. “Eu ainda prefiro minimizar, porque não quero criar pânico”, afirmou ao repórter, em março.
Naquela época, o americano explorava o coronavírus como plataforma política e atacava governadores que aplicavam regras de distanciamento físico para conter a pandemia. Ele só mudou o discurso no fim do mês. Especialistas acreditam que a implantação dessas medidas mais cedo poderia ter poupado dezenas de milhares de vidas.
Jair Bolsonaro também mentiu. O brasileiro disse no fim de março que o pânico era “uma doença mais grave” do que a Covid-19. “O povo foi enganado esse tempo todo”, afirmou.
Em 12 de abril, veio outra lorota: “Parece que está começando a ir embora a questão do vírus”. Assim como o americano, ele sabia que era pura invenção. Àquela altura, o Ministério da Saúde já havia enviado ao Planalto uma projeção que estimava em 100 mil o número de mortes na pandemia, segundo relato feito à Folha pelo epidemiologista Wanderson Oliveira, ex-secretário da pasta.
O Brasil tinha 1.230 mortes no dia em que Bolsonaro dizia que o vírus estava “começando a ir embora”. A conta de vítimas subiu mais de cem vezes desde então.
Nesta quarta (9), Trump admitiu ter ocultado a gravidade do coronavírus. “Eu certamente não levaria o mundo a um frenesi”, justificou o americano, como alguém que tem a certeza de que não será punido pela própria omissão. Se depender dos políticos e juízes de Brasília, o presidente brasileiro também já pode admitir que enganou o país.