Decisão do Facebook mostra que liberdade de expressão não proteger redes de desinformação
A decisão do Facebook de remover 73 contas ligadas ao grupo de Jair Bolsonaro complica a vida dos governistas. Os perfis derrubados são uma fração pequena das conexões da rede de apoio ao presidente, mas o bloqueio desarma pontos-chave da defesa de seus aliados.
A suspensão atingiu páginas que, segundo a empresa, adotavam um “comportamento inautêntico”. Havia perfis duplicados, personagens fictícios e páginas que fingiam ser veículos tradicionais de imprensa. O Facebook informou que a rede trabalhava de maneira coordenada, com a participação de assessores dos filhos de Bolsonaro e do Planalto.
A revelação desmonta o argumento de que a rede governista deveria ficar protegida pela liberdade de expressão. Afinal, os perfis desativados pertenciam a um esquema enganoso e não a usuários comuns –que os bolsonaristas chamam sarcasticamente de “tias do zap”.
O grupo ligado ao presidente passa a ter dificuldade para reclamar de censura ou se dizer vítima de perseguição nas investigações do Supremo e do Tribunal Superior Eleitoral sobre sua rede de desinformação. Embora as leis assegurem o direito à livre manifestação, ele se aplica a pessoas reais, e não a mecanismos fraudulentos criados para amplificar mensagens de interesse do governo.
O Facebook informou que o motivo do desligamento foi o fato de que os responsáveis pelas páginas agiam de forma orquestrada para confundir usuários. “Quando investigamos e removemos essas contas, focamos no comportamento, e não no conteúdo, independentemente de quem está por trás delas, o que elas publicam ou se são estrangeiras ou nacionais”, declarou a empresa.
O bloqueio também reforça o vínculo entre Bolsonaro e a ação dessa rede. Segundo um relatório do Digital Forensic Research Lab, que analisou as contas antes da remoção, havia páginas criadas por um assessor do deputado Eduardo Bolsonaro e por um auxiliar direto do presidente, integrante do chamado “gabinete do ódio” do Palácio do Planalto.